Pequeno Yossef - A caminho de casa

Uma multidão caminhando junta em uma mesma direção. Meu pai, Aviad, diz que agora estamos indo para um lugar melhor, um país que poderemos chamar de nosso. Ele tem o olhar cansado, mas esperançoso. Lembro-me das noites, até semana passada, nas quais ele chegava tarde em casa, cansado e sem forças. Apenas nas noites de sexta e manhãs de sábado ele podia estar em casa livremente, mas estava sempre tão exausto por conta do trabalho que não podia passar o tempo conosco. Mas essa última semana é diferente.

- Papai, me coloca no seu ombro? Eu estou cansadinho.

- Claro, meu filho. Vem cá.

Meu pai agora não trabalha como antes, nós só caminhamos no deserto, e moramos em tendas. Minha mãe está mais amorosa conosco, mas posso ver que ela tem um certo medo, porque agora não temos mais uma casa fixa.

- Filho, como você acha que vai ser a nossa nova casa?

- Não sei, papai. Igual a que nós tinhamos lá?

- Não, não como aquela. Agora não vou ter que trabalhar como antes, e com certeza vou ganhar um soldo ainda maior. Vou poder comprar roupinhas melhores para você, ao invés dessas simples.

- Eu quero a minha colorida, pai. - fala a minha irmã mais nova, que está sentada na carroça junto com a mamãe.

Eu não entendo o mundo dos adultos, mamãe e papai sempre contam histórias dos nossos antepassados, dizendo que uma hora nós também viveríamos como eles. E isso sempre me faz dormir feliz. Só que eles sempre tinham o olhar triste e, por mais animadora que fosse a história, eu sempre ficava pensando o que os fazia ser tão tristes. "É o trabalho deles. Eles são escravos e não podem cometer o menor erro, senão apanham", dizia meu irmão maior.

Agora estamos todos caminhando no deserto, escutando a voz daquele homem de barba grande, quase do meu tamanho, com aquela nuvem bonita indo na frente dele. Meu irmão fala olhando para cima, na minha direção:

- Papai acha que tudo vai melhorar, mas a mamãe e eu achamos que vai ser mais difícil. Lá nós tínhamos comida sempre, apesar do trabalho pesado. Agora teremos de lutar para ter o nosso país, e alguns daqueles países já nos odeiam há anos. E...

- Natan, chega. Nós estamos livres daquilo tudo. Eu não quero voltar para lá e me admiro que tenha quem queira voltar. Só tivemos sofrimento ali. Eu mal nasci e tentaram me afogar no rio.

De repente, todos pararam de caminhar assim que soou aquele barulho engraçado. Já estava perto de anoitecer e todos teríamos que armar nossas cabanas e dormir. Papai, mamãe e Natan a armaram em poucos minutos, e logo estávamos todos dentro, com o burrinho amarrado na estaca. Eu e meus irmãos ficamos em uma parte, enquanto que papai e mamãe ficaram na outra, com um pano fazendo a separaçao entre os dois comodos. Comemos todos aqueles pães finos e o papai, sentado à ponta daquela mesa improvisada, contou-nos toda a história de como iniciamos essa jornada.

Já na hora de dormir, mamãe cobriu meu irmão, depois eu e por último a minha irmã. Ela nos deu um beijo de boa noite e foi dormir. Meu pai, que estava do lado de fora conversando com alguns amigos, se despediu e entrou na nossa cabana. Ele passou por nós, deu um beijo de boa noite nas nossas testas e entrou para o "quarto" deles. Meus olhos começam a fechar, enquanto escuto nossos vizinhos falando aquelas frases com melodia bonita que papai e mamãe sempre fazem de manhã.

Amanhã será um dia melhor.