O CAIS DE TALIA

O sol estava despertando e uma revoada de gaivotas selvagens cortava o céu puro e sensível naquela tenra manhã, às ondas estavam furiosas por conta de desalentos a muito vivido, muitas eram as vozes e os passos que se ouvia nas primeiras horas do dia. Ela estava como todos a procura de respostas e um misto de paixão e angústia, alegria e tormenta a acompanhava, seu olhar era terno como as folhas verdes das águas esverdeadas de Paraty, o sorriso maroto e o semblante angelical lhe abria as portas deste mundo insano, ela possuía uma simpatia esfuziante. Contudo, preferia não divagar por entre as ondas do absinto, seu desejo era eternizar cada minuto de sua existência, cada gota de saudade e momentos de acalorada paixão. Ela estava toda naquele momento. Sua alma não cabia no poema, pois era alma viajante daquelas que desafia noites e luares. O cais seu lugar de descanso para reviver e conviver consigo mesma. Não podia perder um momento, cada segundo parecia passar com tal velocidade a ponto de verter lágrimas de saudades dos olhos verdes da jovem baixa do interior. Como expressar a ternura daquele momento, daquelas horas de longas reticências? Após caminhar durante horas, seus pés descalços sentiam o beijo da areia que começava aquecer as almas dos mortais, certo mesmo era ela estar debruçada no parapeito da ponte que dava para o infinito: o mar. A jovem contemplava a vastidão sem fim e sentia ser parte inerente daquilo tudo: a natureza, seu corpo e consciência eram agora uma única realidade. A música estava calma assim como o seu interior, o óculos estilo John Lennon, e o sorriso catalizador de emoções lhe permitia sentir o leve e terno carinho do vento em seu semblante, diante deste silêncio surge drasticamente a voz estridente dos homens e mulheres vendedores de sonhos e bugigangas, e neste minuto ela se dá conta da hora, não estava mais só como imaginava um número incontável de seres lhe exigiam atenção, regulou seu aparelho musical e com passos lentos para não perder a essência do momento, começou a trilha de volta para a rotina estafante de todo dia. Entretanto, nada seria capaz de apagar a alegre e eterna presença de mistério em cada minuto de seu lindo dia. A jovem enquanto voltava para sua rotina matinal pensava nas vezes em que se aventurava na floresta de sua cidade, nas águas em que molhava o corpo, durante às tardes de domingos com seus amigos e amigas no ribeirão claro, o interior era parte dela e ela o trazia dentro de si. A cidade interiorana lhe proporcionara momentos de eterna magia, pois ali era sua morada nos tempos de infância e começo da puberdade. Com efeito, invadia a alma o cheiro de café recém coado da casa da avó este é um momento de singular importância para a jovem, e a mesma sorria ainda mais. Seu ofício era a liberdade, uma liberdade inseparável da anarquia e do zelo ecológico, o amor pelo sagrado dom da vida era parte de sua existência, sagrado que a mesma transformava em poesia lírica, concreta, exótica e erótica. Prestes a sair da areia colocou a sandália que comprara na feira hippie e contemplou uma última vez aquele porto seguro, doce e eterno confidente de suas horas de alegria e solidão. O cais era para Talia a resposta, o sonho e a certeza de ter o mundo sentido frente ao caos da vida contemporânea. O cais de Talia estava lá e não a deixaria jamais, pois ambos: a jovem, o cais e o mar eram parte indissociável, uma única alma, um único sonho, desejo e realidade, ali e somente ali o amor se materializava.

BetoFilo
Enviado por BetoFilo em 21/02/2017
Reeditado em 17/11/2018
Código do texto: T5919119
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