OS EMBALOS DE DOMINGO À TARDE

Final dos anos 70. A febre das discotecas ainda atingia os 40 graus e contagiava todo o universo juvenil. Era o máximo usar batas e acessórios hippies, vestir uma calça cocota ou uma pantalona, ter um sapato Cavalo de Aço ou um tamanco Francesinha, dançar como John Travolta ou soltar as feras como Sônia Braga em Dancin’ Days.

Naqueles tempos distantes, meu tio favorito, ostentando uma cabeleira ao estilo black power, namorava uma moça vaidosa alegre e charmosa; a que foi escolhida para ser sua esposa e com ele viveu até que a morte os separou. Com isso, passei a frequentar, em companhia de minha irmã, a alegre casa de sua amada. Os finais de semana ficaram coloridos e impregnados de música, distração e encanto. Naqueles embalos de domingo à tarde, amigos e vizinhos reuniam-se para conversar e balançar muito. Com os móveis afastados, a sala quase convertia-se numa pista de dança. Na vitrola: Tina Charles, Painel de Controle, Donna Summer, Sidney Magal, Dudu França, Lady Zu, As Frenéticas, Bee Gees, Elizângela, ABBA, Village People, The Jackson 5, The Commodores, entre outras preciosidades que marcaram aquela deliciosa Era Disco.

Tudo era absolutamente deslumbrante. Como a gente gostava daquele ambiente divertido e daquela moçada “chuchu beleza”! E como eu desejava poder usar aquelas roupas alegres, encher minha cara de rouge e crayon e calçar aquelas plataformas que faziam as pernas parecerem maiores! Tinha tanta pressa em crescer! E quando cresci, quis ser criança outra vez.

Mas, havia algo além das músicas e das vestes que prendia a atenção daquelas duas meninas curiosas que circulavam entre os adultos. O quarto da anfitriã tinha todas as paredes, do chão ao teto, recobertas de pôsteres com os rostos mais famosos da televisão e do cinema; aqueles encartes da revista Sétimo Céu. Sidney Magal se destacava. Abusava em seu charme, com aquela famosa pose “me chama que eu vou”. Eu o olhava insistentemente, quase em estado hipnótico. Num outro canto, Jerry Adriani, o bonitão da Jovem Guarda, já com uma beleza mais madura, parecia flertar minha irmã. Começava ali uma paixão avassaladora que perdura até os dias de atuais. Tony Ramos, que estava arrasando corações na pele de André, em Pai Herói, também tinha destaque sobre a cabeceira da cama. Havia ainda uma foto do Mário Gomes, todo gato, com aqueles olhos muito azuis, o Mário Cardoso com aquela cara de príncipe encantado, Laurinho Corona, na flor da idade, Paulo Figueiredo, Tarcísio Meira, Osmar de Matos, Carlos Eduardo Dolabella, Cláudio Cavalcanti e muitos e muitos outros bonitões.

A gente só parava de contemplar o cenário quando a tarde caía serena e fagueira. Nesta hora, a gente ficava na calçada, espreitando, para avisar quando o chefe da família dobrava a esquina. Sua esposa recebia bem as visitas, tolerava aquela euforia juvenil, mas, o dono da casa não gostava de barulho, nem de casa cheia. Quando aparecia, a pista de dança voltava a ser sala de visita, sem as visitas, e as sobrinhas se despediam muito educadamente.

Eu imaginava que, quando chegasse a puberdade, iria usar todas as roupas e apetrechos que aquela turma bonita usava. Não imaginava que a moda, assim como a vida, tem prazo de validade. Quando a adolescência me deu o ar de sua graça, ninguém mais usava cocota nem pantalona. Massa mesmo era saber a coreografia de Thriller e ser fã do Menudo.

A vida passa e nos arrasta... e a gente se adapta!