SONHOS E AVENTURAS

SONHOS E AVENTURAS

Antigamente não tínhamos muitos canais de televisão. Não havia antena parabólica, nem TV por assinatura; e tampouco sinal digital. Era privilégio ter uma TV em cores. Quase tudo que assisti, durante a infância e a adolescência, foi através de um aparelho pesado, com laterais de madeira, tela côncava e imagem em preto e branco.

Como não tínhamos muitas opções, compartilhávamos as mesmas emoções. Desta forma, a superpoderosa, TV Globo, reinava absoluta em nosso cotidiano. Com o passar dos anos, é que a TVS virou SBT e também começou a ganhar espaço em nossas vidas. Éramos fiéis expectadores. E se tivéssemos outras opções àquela época, ainda assim continuaríamos ligados às mesmas atrações. Pois, quando algo na TV não nos agradava, a gente tinha as calçadas para prosear, jogar e brincar. Tão bom quanto ver televisão era conversar olhando nos olhos, dando boas gargalhadas e fazendo amigos reais.

Quanto ao que víamos na televisão, quem tem mais de quatro décadas de existência, decerto se lembrará daqueles seriados duradouros, que nos proporcionaram momentos incríveis. Os enlatados americanos eram o que havia de melhor para aquela geração ingênua e sonhadora dos anos 70 e 80. Confesso que digo isso com o coração impregnado de nostalgia, mas, há quem perceba e compartilhe de minhas opiniões e de minhas saudades. Temos hoje tantas opções! São tantas as novidades! E quanta tecnologia! Mas, há tão pouca coisa que valha a pena assistir!

Quem viu jamais se esquecerá das deliciosas e excitantes peripécias de Bo e Luke, em Os Gatões. Era também igualmente excitante ver Steve Austin, O Homem de Seis Milhões de Dólares, com seus poderes biônicos e aquela visão infravermelha, capaz de enxergar o que nós, pobres mortais, não podíamos alcançar. Também adorávamos aquela Ilha da Fantasia! E A Mulher Biônica!? E a Mulher- Maravilha!? Qual menina da época não brincou de dar um giro e se transformar de repente numa mulher monumental e poderosa, que jogava o laço e agarrava os vilões? E qual mulher nunca sonhou em estar no Havaí, roçando o bigode sexy de Tom Selleck, na pele de Magnum? Em contrapartida, As Panteras atiçavam muito as fantasias masculinas; e todos os boys desejavam ter aquela Pick Up, aquele charme e aquela destreza de Colt Seavers, personagem de Duro na Queda. Tudo era lindo e marcante. Se faltava energia ou a TV saia do ar, era um martírio passar uma tarde de domingo sem ver o Hulk ficar verde, inchar, a ponto de rasgar as roupas e ficar só com uma bermuda muito justa e estraçalhada. Eu sabia que ele mudava de cor, mas minha telinha não permitia enxergá-lo verde. Mesmo assim, aquela transformação era, para mim, puro êxtase! E aquele final!? Quem não se lembra daquele instrumental melancólico e do David Benner seguindo por uma estrada longa, com um bolsa de viagem a tiracolo, fugindo do antipático perseguidor, senhor McGee?

Quando essas delícias deixaram de ser exibidas, a Globo, que sempre teve uma visão futurista, deu a sua cartada e conquistou a mocidade com aquela Armação Ilimitada. Eu já era adolescente sonhadora, mas confesso que Juba e Lula não conseguiram roubar meu coração. Kadu Moliterno arrancava suspiros com seus olhos azuis e o loirão, André de Biasi, estava em sua melhor forma, porém, eu já havia descoberto no canal da concorrência, a TV do Homem do Baú, duas maravilhas norte-americanas: A Super Máquina e O Esquadrão Classe A. Eu adorava ver as façanhas do Kitt, aquele indestrutível carro falante, que ajudava o Michael Knight a combater as forças do mal. E me divertia ao máximo quando, às sextas-feiras, Hannibal, Murdock, Cara de Pau e B. A. se metiam em aventuras e trapalhadas, nas fugas cheias de adrenalina. A questão é que eu não morava sozinha e havia quem gostasse do que eu achava insosso. E, para meu desespero, a gente só tinha um aparelho de televisão! Mas, a grande vantagem de ver filmes e seriados é que a gente fica mais criativo e inteligente. Com muita perspicácia, encontrei uma solução que agradou a todos, principalmente a mim. Nas noites de quinta e de sexta,eu, muito gentilmente, servia no jantar uma deliciosa jarra de suco natural de maracujá; suco bem encorpado. Todos tomavam, menos meu irmão e eu. Assim, por volta das vinte e duas horas, todos já estavam relaxados, calmos e sonolentos; e a gente podia trocar a produção brasileira pelas maravilhas importadas. Como o Michael Knight era lindo!

Outra grande paixão, veio na metade da década de 80. Profissão Perigo nos mostrou a inteligência e a habilidade de Macgyver. Claro que as peripécias tinham um pouquinho de exagero; ele sempre tinha tudo às mãos. Mas, se tudo fosse normalzinho, que graça teria? O astro era muito gato. Com aquela pinta de louro escandinavo, literalmente fez a cabeça de todo mundo. Homens e mulheres aderiram à moda do franjão, aquele cabelo comprido, caindo nas costas, mas bem repicado no topo da cabeça, deixando aqueles fios espetados, bem arrepiadinhos. Como o tempo nos torna ridículos! O que naquele tempo era a maior sensação, hoje, nas fotografias, arranca risos e zombarias.

Lembro-me que, no final da década de 80, me empolguei e quase me apaixonei pelo moreno de olhos azuis que era O Homem da Máfia. Mas, o tempo foi passando e depois, bem depois, os seriados foram ficando menos empolgantes e duradouros. Outros canais foram aparecendo, e, com a maioridade, a maturidade foi buscar outros atrativos. Claro que a TV continuou exibindo séries e conquistando muitos expectadores, mas, já não havia aquela fidelidade, aquele público que formava uma massa quase homogênea em torno do que de fato era bom.

Antigamente era assim! E era muito bom! Saudades