ALGODÃO

ALGODÃO

Meninos vejo

Desafio pé em pé atravessar o arco da ponte

Da do rio, Rio Paranaíba

Em Algazarra brincam

Meninos felizes

Medo não tinham

Das garras afiadas do dia-a-dia dos caminhos da vida

De calça curta de algodão nas mãos calejadas colhido

Nas cardas, cardado

Na roda fiado

No tear teado

Vejo

Meninos a equilibrar sobre o arco da ponte

Atravessavam felizes

Saltitantes íamos catar gabirobas

Alegres pé em pé corriam, corriam

Comiam, comiam

Poucas guardavam

Correndo nos campos

Catando gabirobas

Nos campos correndo

Comendo gabirobas

Se bichos algumas tinham coitados!

Coitados! Morreram-se todos

Na volta pra casa

Na subida do morro

Morro da ponte

Chuva copiosa caia

Parada para ver

Atolar os carros

A cada um que atolava

Pro dono tristeza

A nós felicidade

Se queriam ganhar o tope do morro

Ajuda pediam

Moeda em recompensa nos dava

Rindo sem saber de quê empurrávamos o carro

Para mostrar dificuldade, caiamos no barro

Em casa chegávamos

Sorridentes, desconfiados

Na lata algumas gabirobas

No bolso alguns trocados

E de barros muito enlameados

Promessas de tundas

Das mães ganhávamos

Mas no outro dia

Esquecíamos

O prometido

Saiamos felizes

E tudo,

Tudo recomeçava...

Zé de Brito
Enviado por Zé de Brito em 11/01/2017
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