ALGODÃO
ALGODÃO
Meninos vejo
Desafio pé em pé atravessar o arco da ponte
Da do rio, Rio Paranaíba
Em Algazarra brincam
Meninos felizes
Medo não tinham
Das garras afiadas do dia-a-dia dos caminhos da vida
De calça curta de algodão nas mãos calejadas colhido
Nas cardas, cardado
Na roda fiado
No tear teado
Vejo
Meninos a equilibrar sobre o arco da ponte
Atravessavam felizes
Saltitantes íamos catar gabirobas
Alegres pé em pé corriam, corriam
Comiam, comiam
Poucas guardavam
Correndo nos campos
Catando gabirobas
Nos campos correndo
Comendo gabirobas
Se bichos algumas tinham coitados!
Coitados! Morreram-se todos
Na volta pra casa
Na subida do morro
Morro da ponte
Chuva copiosa caia
Parada para ver
Atolar os carros
A cada um que atolava
Pro dono tristeza
A nós felicidade
Se queriam ganhar o tope do morro
Ajuda pediam
Moeda em recompensa nos dava
Rindo sem saber de quê empurrávamos o carro
Para mostrar dificuldade, caiamos no barro
Em casa chegávamos
Sorridentes, desconfiados
Na lata algumas gabirobas
No bolso alguns trocados
E de barros muito enlameados
Promessas de tundas
Das mães ganhávamos
Mas no outro dia
Esquecíamos
O prometido
Saiamos felizes
E tudo,
Tudo recomeçava...