A Quadratura do Círculo- cap. 24

Rafa tinha uma festinha dos parentes dela para ir... e eu junto; eu, que não suportava as coisas mundanas e, na minha opinião, pouco ilustradas e banais. Até que gostei da festa; aquela criançada toda gritando, bem pior que nas da Paloma; entre os burgueses há uma certa discrição, vista até nas crianças, que são amestradas para serem mais comportadas. Confesso que gostei, realmente; até que enfim apreciei uma festa, simplesmente pelo fato das pessoas conversarem com você, olharem no seu rosto, apesar da gritaria e da música horrível e no último volume; eu me dava uma importância excessiva e talvez por isso alguns tivessem raiva de mim. Mas quem disse que os mais ricos não são vulgares também e, até mais cafonas!

No dia seguinte acordei às dez; aquele conhaque de quinta tinha dado dor de cabeça! Saí à rua vendo estrelas e, vi Poliedro, que andava de um modo estranho, fazendo uma série de ondas na sua trajetória; achei aquilo mais esquisito do que ele já era, mas nada do que é estranho me surpreende; perguntei do que se tratava:

-Por que está andando assim?

-Andando formando elipses...

-O quê??

-Tentando formar elipses. Pessoas omitem o que são, falsas, para enganar outras. Faltam o que elas são; deixam de mostrar o que são.

Incrível! Reparei que ao andar ele descrevia uma elipse em sua trajetória e, nas palavras era o mesmo; e não é que havia sabedoria no que dizia? Sob um ângulo diferente, as coisas mudam. Isso me fazia ver o mundo por um outro prisma. As pessoas fora do senso comum são sempre mais interessantes.

-Venha almoçar!

A velha rabugenta que cuidava dele o encontrou e rispidamente falou isso, sem me cumprimentar; achava , talvez, que fosse como ele, ou era mal educada mesmo. Poliedro se afastou, obedecendo como um animal acanhado. Pobre criatura!