Antigo casarão

Saudades e memória (praticando a escrita)

Antigo casarão

Parei no portão e contemplei o antigo casarão de madeira que ainda está conservado, é o mesmo casarão, mas sinto que tudo se foi, aquele tempo está somente na minha memória tudo se transportou, se perdeu.

É uma sensação estranha adentrar para o quintal e ver que o pé de amora não existe mais e as flores da beira do rio (espécie de bromélias caipiras) que minha mãe cultivava naquele pequeno jardim, com suas cores vibrantes ensolaradas (alaranjadas) contrastando com o verde sóbrio das suas folhagens, ainda estão vivas na minha lembrança. Chego a sentir o perfume, o aroma do mel, como num beijo roubado, em que pequeninos beija-flores céleres brincavam no spray do jacto de água da mangueira em que minha mãe, aguava as plantas do jardim.

Lembro-me do seu sorriso encantador e da sua voz doce me chamando para ver essa cena.

- Filho, venha ver que lindo!

Havia um quarto em que a porta dava pra rua e nessa porta uma pequena escada de alvenaria, onde aprendi os primeiros acordes no meu violão e cantarolei as minhas primeiras canções. Fui entrando e passei pelos degraus de alvenaria, senti o coração apertar e segui em frente até a vasta varanda onde meu pai sentava para ler os seus pequenos livros de bolso de estórias de bang-Bang, (lágrimas escorrem pelo meu rosto e um sentimento invade o meu peito) e me pergunto:

- Por quê? Como seria bom abraça-los!

Ainda ouço a sua voz firme e forte:

- Cuidado por ai na rua hein! Não se meta em confusão!

O casarão permanece o mesmo, suas portas de madeira, suas janelas fechadas, o assoalho dos quartos, quando piso ainda range, o chão de cimento com vermelhão encerado e brilhante estão carcomidos pelo tempo.

Acendi as luzes e vi antigas fotografias na parede, por um breve momento, o tempo voltou e tudo ficou alegre, as cores dançando, as luzes colorindo, até uma antiga canção ouvi tocando na vitrola.

Quando terminou a música, o silêncio se fez, fechei a porta e fui saindo, contemplei o ressecado jardim e fechei o portão.

Na rua um movimento de pessoas, indo e vindo, um alarido de gente.

Dei um sorriso e disse: É natal! É natal...

22/12/16 Roman