Ele Estava Cansado

Ele estava cansado, disso ele sabia.

Cansado de toda aquela correria.

Pensava em como os anos passaram e em todo o turbilhão que o novo tempo fez parecer ser somente de um dia.

A uma rotina estressante se dedicava constantemente

Em pilhas de e-mails em negrito, entre mensagens de grupos importantíssimos, nem a piada mais infame o sustentava o riso

Temia acabar como nunca imaginou:

Rico; sucedido; mas com toda a fatura que um cartão sem limites o limitou

Como última aquisição, uma fobia

A morte o rondava trazendo consigo o medo da vida

Nenhum aplicativo acalmava as batidas daquele coração agora em sua opinião acelerado.

Este medo, o da morte, não o deixava mais dormir. Agora nem ao trabalho se prestava mais em ir

Deitado em sua cama completava sua rotina

Fazia de tudo para não precisar sair de cima de sua mais nova velha grande amiga

Nela, pensava em tantas que por ali passaram, com o mesmo ou maior desprezo do que sua nova nostalgia.

Definitivamente sufocado estava

Tanto que nem zunido em vão de sua boca se escutava

Sempre muito preocupado, tomava cuidado com tudo por conta de sua fobia

(Se não fossem essas novas máquinas, dele não sei o que seria.)

Comia o que lhe traziam, somente o que era preparado por sua ama mais antiga

Mesmo assim comia pouco, pensava: __caso esteja envenenado, doses homeopáticas da morte não me afetarão.

Para chegar ao banheiro máxima atenção e cuidado pelo corrimão recém instalado. Enfim, tinha quase o mundo todo em suas mãos.

Um dia, tomado por uma força inexplicavelmente inexplicável despertou daquele sono mais que profundo

Olhou em volta e reconheceu que aquilo ali não poderia mais ser sua vida

A entrega ao putrefato descaso com as cores reais não poderia ser a luz que beirava o cheiro da morte em cada migalha que se resumia sua existência

Decidiu simplesmente mudar, e os motivos nem adiantava contabilizar. Sabia somente que iria mudar.

Fez tudo como manda o figurino, uma mão nem sonhava em onde andava a outra a doar

Ao monte mais longínquo decidiu ir morar

Ao coração da mais linda floresta foi ao reencontro de si

Com o mais puro ar o habitat perfeito, natureza divina dividida em terra e mar

Foi a melhor serventia que o GPS de seu celular pode ter.

Já no primeiro dia foi pé descalço na terra, energias renovadas, elementos naturais lindos,

Os mais exóticos peixes ele viu e não os comeu, animais silvestres viu e se alegrou com toda aquela fartura natural a sua disposição, sentia-se fazendo parte do ciclo.

Finalmente havia encontrado seu lugar.

Então chegou o firmamento, no topo da montanha mais alta que conseguiu chegar a paisagem mais linda e relaxante de se apreciar

Notou que ainda estava com o celular em seu bolso e decidiu fazer daquele o momento ápice de seu desprendimento da vida material que um dia o aprisionou, como ato de libertação de todas as suas consequências.

Levantou-se lentamente, respirando com calma, apreciando o momento, retirou o celular do bolso, o encarou. E como a criança que esqueceu que um dia foi, arremessou aquele objeto com tanta força e desjeito que se desequilibrou, despencou precipício abaixo e nunca mais voltou a lugar nenhum em nenhuma forma.

Alexandre Santiago
Enviado por Alexandre Santiago em 25/11/2016
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