Susto de "gente grande"

Carlinhos é um garoto extremamente curioso. Não poderia ser diferente para quem acabou de completar 6 anos e está estudando numa turma de mais 40 curiosos, entre amiguinhos e amiguinhas.

Cada dia na sala de aula era um motivo de brincar, sorrir e, principalmente questionar alguma coisa. Ele sabia que sua professora estava grávida esperando um neném, mas ele sempre ficava pensando: _”Como é que este nenenzinho foi parar ali dentro”. De vez em quando Carlinhos fazia cada pergunta para sua mãe. Ela sempre desconversava quando o assunto era papo de “gente grande”.

Ele é um menino baixinho, moreno, 1,06 de altura, cabelos raspados com máquina 2 a pedido do diretor da escola na tentativa de erradicar a infestação de piolhos na escola.

Numa terça-feira, véspera de feriado, por volta das 16 horas, faltava apenas 30 minutos para bater o sinal. No dia seguinte, dia 15 de novembro, Proclamação da República. Seus pais também não iriam trabalhar.

Sua mãe é Judite, uma mulata de 25 anos, 1,60 m, cabelos longos, pintados de cajú e alisados. Ela está fazendo tratamento para dar um irmãozinho para Carlinhos. São 3 anos tentando se engravidar. Ela não quer uma distância muito grande de idade entre o primeiro e o segundo filho.

Judite é vaidosa, mas passou a ficar assim depois começou a trabalhar de auxiliar administrativo numa clínica especializada em ortopedia. Há 4 anos decidiu trabalhar para ajudar Carlos, seu esposo, no orçamento de casa. Até mesmo para comprar seus produtos de beleza. Ela adora cremes, hidratantes, massageadores, etc, embora há 2 dias vem reclamando que sua pele do rosto está irritada. Ela acha que é por causa da maquiagem que comprou da revista para ajudar sua amiga. Espinhas da época de adolescência começaram a aparecer e Judite as odiava.

Carlos é um bom marido, que também sonhava em ter uma filha. Enquanto para Judite o sexo não importava, deixando nas mãos de Deus, para Carlos um casal seria a realização de seu sonho. Queria ter um garotinho e depois uma garotinha linda. Carlinhos Júnior não puxou a cor do pai, que é branco, cabelos castanhos escuros, olhos castanhos claros, porte atlético, 1,78 m, chefe do setor de produção de uma fábrica de velas.

Judite pagava a sua mãe, dona Rose para levar e buscar Carlinhos na escola. É uma vovó coruja que só solicitou a ajuda simbólica para ajudar no pagamento de seu plano de saúde.

Faltando 15 minutos para bater o sinal, a professora já tinha deixado as crianças ficarem mais a vontade arrumando seus materiais escolares para logo em seguida irem para a casa.

_O que você vai fazer amanhã?, perguntou Julinho, amigo do peito de Carlinhos.

_Quero ir para a casa da vó Rose para jogar videogame com meus primos. Eles vão para lá.

_Amanhã eu vou pra piscina com meus pais.

_Vou pedir para a vó Rose para eu dormir na casa dela.

O sinal tocou e as crianças se levantaram correndo. Como num coro quase todos se despediram da professora e foram saindo pela porta, depois pelo corredor, até que cada um foi se dirigindo no portão de entrada em direção aos seus responsáveis.

_Vó Rose, quero dormir na sua casa hoje. Amanhã é feriado e eu quero jogar videogame.

_Vamos ligar para a sua mãe para vê se ela deixa_disse a vovó.

Carlinhos insistiu e sua avó ligou para a Judite que na hora concordou que ele dormisse na casa dela.

No dia seguinte, feriado nacional, os primos de Carlinhos foram chegando e fazendo barulho. Ele acordou, tomou seu café e foi para a sala brincar. Era o dia para ficar com os dedos até doendo de tanto jogar futebol no videogame.

Arnaldo, seu tio mais novo de 18 anos, tinha combinado com os sobrinhos que os levaria para jogar futebol. Ao invés do videogame, eles iriam jogar futebol de verdade pela manhã. Seus primos estavam todos preparados com meião, chuteiras, shorts e camisetas de time e Carlinhos se viu despreparado.

_Tio Naldo, eu não trouxe minha chuteira, nem meião, e nem minha camisa do Flamengo_falou com lágrimas nos olhos.

_Carlinhos eu te levo na sua casa de moto para você pegar.

_Oba tio. Vamos então.

_Já tomou café Carlinhos?

_Já sim, estou pronto.

Enquanto os primos ficaram brincando, conversando com a vovó Rose e com o vovó Moreira, tio Naldo tirou a moto da garagem e colocou Carlinhos na garupa indo em direção a sua casa. Carlinhos morava há menos de 5 minutos de moto da casa da vovó.

_Carlinhos, vou ficar esperando você aqui na calçada. Não demore para a gente não jogar com sol quente muito forte na cabeça.

_Tá bom tio.

O menino saiu correndo, abriu o portão, o cachorro olhou para ele sem esboçar qualquer reação. Já o conhecia. Carlinhos foi pelos fundos pegar seus materiais esportivos.

Ao ir se aproximando da janela do quarto dos seus pais ouviu gemidos “estranhos”.

_Ai, aiiiiiiiiii, ai...aiiiiiiiiiiiii_gemia sua mãe.

_Tô quase_afirmou seu pai!

Carlinhos ao se aproximar da janela ficou com os olhos arregalados e temeu abrir as cortinas. Como era um menino muito curioso, não se deteve. Ele estava preocupado com sua mãe. Seu coração disparou, seus lábios se embranqueceram, suas mãos gelaram.

_”O que que está acontecendo com minha mamãe”, pensou em milésimos de segundos.

Mesmo com medo, Carlinhos colocou suas duas mãos, cada uma num lado de cada cortina e abriu!

_Mãeeeeeeeeeee!

Ao olhar para dentro do quarto estava sua mãe sentada na cama olhando para o espelho do guarda-roupa e seu pai de frente para ela com as duas mãos tentando espremer um cravo que estava quase inflamando.

_Meu filho, o que você veio fazer aqui. Que susto menino_gritou Judite.

_Vim buscar minha chuteira. Tio Naldo está ali na calçada esperando.

_Manda ele entrar.

_Não mamãe. Estamos atrasados. Todo mundo está me esperando para jogar bola.

_Vai com Deus Carlinhos. Cuidado com a moto.

Carlinhos saiu correndo, pegou chuteiras, um par de meias, short e sua camisa do Flamengo que estava secando no varal. Seu tio estava com moto ligada e buzinou duas vezes. Carlinhos subiu na garupa do tio Naldo e partiram para a casa da vovó.

Dentro de casa Judite e Carlos continuaram “brigando” com os cravos e aproveitaram o feriado para dar uma faxina no rosto de Judite pela manhã para que as marcas das espremidas não dessem sinais de vida no outro dia de trabalho. Enquanto Carlinhos aproveitava seu feriado com futebol de verdade na parte da manhã e com futebol no videogame na parte da tarde na casa da vovó.

(fim).

Anderson Heiz - 18/11/2016

Anderson Heiz
Enviado por Anderson Heiz em 19/11/2016
Reeditado em 26/01/2017
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