Seu nome é esperança

O sol morria sozinho e em agonia no horizonte, deixando seus traços amarelo - avermelhados muito além de sua partida. A noite sorrateira e audaciosa tomava seu lugar a força, até  nos cantos mais escondidos. Uma leve brisa despistava qualquer sinal de temor.

     Ele andava devagar, puxava um pouco uma perna e era tão magro que seu corpo curvado parecia alguns centimetros menor. A pouco sentira-se extasiado diante da magnitude do final do dia e agora aquele mal estar se fazia presente. Todo dia era a mesma coisa, parecia que morria um pouco com o anoitecer. Sempre era depressiva a sensação de abandono.

     Um cachorro o seguia de perto.

     Ele descia a ponte e sua sombra estava longa, tão esticada quanto os cabos que seguravam a estrutura da mesma. A brisa que começara leve e agradável agora estava gelada. Ele puxou o casaco gasto até o queixo. Esperava que não esfriasse muito. Seu estômago estava doendo, a fome não o abandonara o dia todo e ele se recusava a pedir algo, não era orgulhoso, era apenas o resto de sua dignidade que tentava manter. Estava desempregado  a algum tempo e sua idade não o  ajudava muito a ser contratado novamente. Conseguira alguns serviços  temporários, mas assim como vieram também se foram. E os problemas apenas pioraram junto com sua fraqueza e desgaste.

     Alguns rapazes que passavam em algazarra lhe dirigiram alguns insultos que ele fingiu não ouvir. Ultimamente fingia ser surdo aos chingamentos e cego as pessoas que o ignoravam.

     Ele já estivera dos dois lado. E este era o menos favorecido.

A sociedade era tão contraditória! Por um lado todo seu empenho em campanhas gigantescas de ajuda e por outro tropeçavam em você  sem ao menos lhe enxergar. Mas a dor da fome,  do desabrigo, do indefeso, ele via, ele sentia.

     Finalmente chegou ao pé  da ponte e desceu o barranco que o levaria até o lugar em que estava usando para dormir, uma entranha cavada na terra antes das águas do rio.  Se espremeu ali como pode e encostou a cabeça de modo que pudesse ficar olhando as estrelas enquanto o sono não chegasse. O cachorro que o seguiu, deitou ali por perto, meio no escuro,  escondido,  não queria ser visto,  mas não queria tão pouco ficar sozinho. Dividiam o mesmo sentimento.

     Já tonto de sono ele agradeceu pela esperança  que sentia no fundo do seu ser. Era ela que lhe fazia acordar todos os dias.

     Era ela que de alguma maneira lhe mantinha vivo ainda.

Tânia Mara Paula
Enviado por Tânia Mara Paula em 15/10/2016
Reeditado em 26/12/2017
Código do texto: T5792843
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