Sonhava um mundo...

Encostando em um grande coqueiro, sentou-se na grama verde do parque que costumava caminhar todas as manhãs. Pôs-se a olhar tudo o que acontecia no perímetro que o cercava.

A natureza agia como se também observasse o seu entorno. Toda esta imobilidade externa, deu-lhe uma postura analisadora e reflexiva diante do cotidiano.

Do outro lado do jardim, bem próximo aos brinquedos, um garoto sentado em frente ao balanço lhe chamou a atenção. Estava de cabeça baixa,indiferente aos atrativos de uma área de recreação situada em um belo parque. Decidiu aproximar-se da criança.

Bem perto de onde estava o garoto, notou um senhor lendo jornal: provavelmente era avô do garoto. Deduziu enquanto atravessava por entre os brinquedos. Parou frente ao menino e perguntou:

-Por que prefere ficar sentado cabisbaixo, quando se tem diversos brinquedos esperando que alguém os use?

O garoto abriu os olhos, levantou a cabeça, respirou fundo e disse:

-Está vendo esse maior prédio, logo à frente da banca de jornal- disse apontando a direção.

-Sim, estou vendo.

-Há muitas famílias lá, e nessas, existem muitas crianças também. Venho aqui ao parque por diversos dias, e sempre ele está vazio desta maneira. Gosto muito de vir aqui me divertir, mas certamente seria muito melhor se tivesse com quem compartilhar todo esse espaço.

-Mas, porque os olhos fechados?

-Enquanto estava de olhos fechados, imaginava este lugar repleto de pessoas, o que traria mais vida a este lindo, mas triste parque.

Ele não esperava que uma criança daquela idade, conseguisse fazer uma análise da vida através do que sentia ao vir ao parque de seu bairro. Realmente a humanidade está estranha de se entender. Num clique, o homem de hoje em dia tem o mundo nas mãos. No entanto, cada vez mais vai se distanciando desse e de si mesmo. Esqueletos se arrastam pelas ruas da cidade: cumprem rotinas, metas, com um antolho invisível na cabeça, que os impede de acordar da hipnose déspota que os escravizam numa incoexistência. Adultos não visitam parques, tampouco trazem seus filhos.

Decidiu Sentar-se ao lado do garoto, acenando a cabeça num gesto de aprovação pelo que o garoto disse, concluindo :

-Sim, existe muita tristeza aqui, mas ainda há a esperança. Essa esperança só resisti, porque ainda existem mentes e corações assim como o seu. Somos frutos de um sonho, e o mundo evolui à medida em que se sonha. Tudo que se vê, um dia foi sonho; sonho é movimento. As pessoas de seu prédio e do mundo, estão assim , porque decidiram viver sonhos que não eram os seus, e isso é muito perigoso. Viver um sonho que não é o seu, quando se tem um que é certo te esperando, é como nutrir-se de sangue incompatível. Continue brincando, pois enquanto brincas, haverá um fio de luz que manterá vivo todo este parque. Sorria e seja a centelha que aquecerá o inverno das faces amarguradas. Resista até quebrares o feitiço que robotiza os homens, e enfim eles acordarão para a vida. Por isso sonhe, amiguinho; sonhos de crianças como você, conseguirão salvar o mundo que vivemos.

John Canere
Enviado por John Canere em 11/10/2016
Reeditado em 30/08/2019
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