Análise de Coxinha - Parte I

Centro da cidade de Guarulhos, entre lojas e bancos, as lanchonetes são muitas, principalmente aquelas em que os salgados são baratos e com um trocado se compra algumas unidades dos quitutes gordurosos que se avolumam nas vitrines enchendo de fome os olhos gulosos.

O par de olhos pretos de Heitor percebe que mais uma lanchonete foi aberta em um salão que anteriormente funcionava qualquer coisa que não era uma lanchonete, ele tenta se lembrar, mas seu pensamento muda quando olha para os salgados e repara em uma coxinha.

Alguns metros outra lanchonete, desta vez maior e na esquina da avenida, mais salgados na vitrine, mais coxinhas e outro olhar do jovem sob aquilo, Heitor vai até uma faculdade particular para saber o valor do curso de psicologia e qual a data do próximo vestibular, a secretaria da instituição está vazia e ele logo é atendido por uma moça que tira suas informações:

- Olha, o valor do curso com desconto até o quinto dia útil do mês está em quinhentos e quarenta reais, sendo que a cada semestre o valor aumenta um pouco. O próximo vestibular será daqui duas semanas, você pretende se inscrever mesmo?

O rapaz acena que não, agradece e sai, vai embora um tanto descontente com as informações e na volta, o mesmo caminho: as mesmas lanchonetes, as mesmas coxinhas que não saíram do lugar e o ônibus cheio numa hora em que não costuma estar daquele jeito, lá não havia coxinha, mas uma moça vestida com uma calça azul que realçava seu quadril grande e mesmo de pé e um tanto de costas para ela, o par de olhos pretos gulosos de Heitor foi se enchendo de fome e como tudo foi ficando distante – a psicologia, o vestibular e as lanchonetes, aquele bumbum também foi sumindo naquela pequena multidão.

Ao chegar até a sua casa, ele manda uma mensagem para o celular de sua amiga Mônica:

Tomei uma decisão!

Após alguns minutos, a moça pergunta:

Qual eh?

E Heitor afirma:

Não vou mais analisar pessoas, vou analisar coxinhas!