Primeiro de Abril

Primeiro de abril

Bem passado, cabelos cortados, sapato brilhando, ali estava, gastara algum dinheiro, porém sabia valer a pena, afinal seria o encontro com alguém muito importante. O nome no envelope não deixava dúvidas: José dos Anjos Costa da Silva, era um envelope branco e bem maior do que os comuns que conhecia desde menino com barrinhas em verdes e amarelas. Tinha um selo grande e antes do nome do destinatário tinha algo a mais que o destacava entre os demais nomes daquela rua:

Exmo. Senhor...

Não conhecia o remetente, mas o que estava escrito não deixava a menor dúvida, até o chamava de meu irmão e companheiro e dizia que de passagem em sua cidade gostaria de cumprimentá-lo pessoalmente, e estendia os cumprimentos para a esposa e filhos...

Como o Dr. Albuquerque de Azevedo Castelo Branco o conhecia?

Como sabia que ele era casado e que tinha filhos?

Com certeza ele deveria ser um homem bem informado, não poderia ser engano. Ohava mais uma vez o envelope com satisfação:

Exmo. Sr. José dos Anjos Costa da Silva...

Acordara bem mais cedo, para pegar o primeiro coletivo que sairia as cinco, na verdade, nem conseguira pregar os olhos direito, só em pensar em perder a hora sentia calafrios. Tomara três conduções para chegar, mas não entendia porque os aviões tinham que descer tão longe de onde se mora, já que antes sobrevoavam toda a cidade, passando inclusive sobre sua casa que ficava do outro lado...

O envelope dobrado no bolso lhe dava a segurança de que não estava ali por acaso, sorriu ao lembrar-se do susto ao ver a porta de vidro abriu-se a sua frente.

O aeroporto, cheio de pessoas educadas e bem vestidas o fascinava, era bem maior do que imaginara. Frustrado em não poder ver os aviões principalmente na decolagem, contentava-se apenas com o roncar distamte das turbinas o que lhe deixava mais ansioso.

O voo chegaria só as oito, e como estava em horário de verão, parecia não ter ainda amanhecido. Para não arriscar, resolvera chegar cedo, quem sabe ele adiantaria logo naquele dia!

Não quis esperar a mulher fazer o café como de costume, agora com o passar do tempo sentia aos poucos a falta alguma coisa, mas ao ver o preço dos lanches, desistira de vez. A cada toque eletrônico, imaginava ouvir o seu nome sendo chamado, o tempo passava lento e entre o som de um ou outro anúncio, esperava com paciência, o clima muito agradável fez com que relaxasse de vez e acabasse dormindo.

Passadas algumas horas acordou ao ser chamado pelo segurança, lhe avisando que neste primeiro de abril, não chegaria mais nenhum avião.