O ENVELOPE

Lilian tinha passado por maus momentos durante a sua estadia na Vila dos Patos. Ela era enfermeira de um posto de saúde desta cidade há cerca de um ano. Ainda não tinha se adaptado a tratamentos de doentes crônicos. Mas com o tempo conseguiu desempenhar de forma eficiente a sua profissão. A moça tinha saido da sua cidade Tercila do Norte para auxiliar o médico daquela cidade. A enfermeira convivera com mimos dos pais que sempre a presentearam com carros, jóias e viagens internacionais. Os genitores da moça queriam-na vê-la médica. E por isto sempre mantiveram-na em colégios particulares. Porém Lilian optou pelo curso de Enfermagem. Os pais, claro, não gostaram da escolha da filha. Eles diziam que a profissão de enfermeira exigia grande esforço, mas recebia baixos salários. No entanto, a moça dizia que isto não era importante. Quando chegou na Vila dos Patos a enfermeira encontrou os postos de saúde em condições precárias. A cidade também não tinha médico. A enfermeira seria a médica do povoado. As dificuldades não desencorajaram a sensível moça. A nova enfermeira hospedou-se na casa de Dona Generosa que nada cobrava de aluguel. No primeiro dia de trabalho Lilian atuou inclusive como auxiliar de serviços para limpeza do posto. Mas finalmente começou a atender a pessoas carentes da cidade. A jornada começava às 5 da manhã e se estendia até às 20 horas. Nos fins de semana a enfermeira retornava à casa dos pais e ali descansava muito para um novo começo de semana. Na segunda-feira ela retornava revigorada. Os dias se passaram e nada acontecia naquela pacata cidade. Mas no primeiro dia de agosto ocorreu um fato inusitado. Lilian atendeu um paciente com histórico de esquisofrenia e doença de pele grave. A imagem daquele homem cheio de escárias causava repulsa de outros pacientes. Mas a enfermeira prescreveu algumas receitas para amenizar o sofrimento daquele paciente. Após cumprir a sua jornada, Lilian foi almoçar na casa da Dona Generosa e à tarde retornou ao trabalho. Porém ela percebeu que a porta do posto de saúde estava semi aberta. A enfermeira deparou-se novamente com a imagem do homem estranho. Ela pensou: O que este homem quer?. O doente crônico tinha um envelope nas mãos e suava bastante. O seu rosto mostrava uma grande tensão. A enfermeira teve medo e pensou: - Será que este homem vai me matar, ou esquartejar? Lilian tinha assistido a vários filmes de Serial Killer naquele fim de semana. A garota tentou correr porta afora. Porém a sua reação foi mais lenta do que a do doente. Ele estendeu a mão em sua direção. A enfermeira fechou os olhos e esperou o seu destino cruel. O paciente vociferou: - Mas isto é um absurdo, um absurdo!. Lilian começou a chorar compulsivamente. E o doente rosnou mais uma vez: - Isto é um absurdo, um contracheque de médica com valor de salário mínimo. Isto é um absurdo! Neste momento Lilian caiu na gargalhada e voltou ao trabalho. Ela já estava acostumada a receber aquele mísero salário. A enfermeira somente ficou chateada porque o doente abriu o seu contracheque sem a sua permissão.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 07/02/2016
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