Davi e Golias

Era manhã de véspera de natal quando ele cruzou o pórtico de entrada do salão sendo recebido como um autêntico nobre. Todos o reverenciavam e apesar dos pequenos olhos escuros e as pálpebras inchadas pelo sono observava atentamente o local e os gestos daqueles que estavam a sua volta. A sua frente, Golias lhe aguardava com uma pontuda tesoura a mão e quando sua mãe o acomodou sobre o colo em frente ao espelho o duelo teve início e os primeiros fios começaram a ser decepados. Nosso valente guerreiro abastecia-se do conteúdo da mamadeira que, tal qual a poção de Asterix, lhe proporcionava todas as forças necessárias para resistir. Mas Golias não se deu por vencido e partiu para o plano B. Sacou de uma máquina de cortar cabelos e passou a ceifar sua cabeça tal qual uma foice sob um campo de trigo e os primeiros ares de reclamação brotaram de sua garganta. O resultado, foi, que, diante do espelho, existia, agora, apenas um mísero topete. Mas a saga não havia terminado e uma nova etapa teve início. Seu pai rompeu local adentro e como um Salomão decretando uma sentença determinou “corta tudo”. A rainha mãe o segurava firmemente no colo enquanto o gigante dilacerava o que ainda sobrava do topete. Nosso herói tentava se desvencilhar esquivando-se para os lados e não podia mais contar com o conteúdo da mamadeira e suas forças pareciam querer lhe abandonar. Mas ele resistiu bravamente e Golias, exausto após despedir-se do último fio, foi obrigado a reverenciar a coragem do desafiante e lhe presentear com um pirulito em forma de sorvete. Ele, com a imponência de um príncipe, despediu-se do povo, tomou a mão da rainha e seguiu seu caminho em busca de novos desafios.

As batalhas não tem dia, hora ou época para acontecer. Faça de cada vitória, por mais simplórias que possam aparecer, um exemplo para os momentos em que a derrota querer falar mais alto.