NÃO CONFIE NO JAPONÊS

Ele olhou os móveis pela última vez antes de ir embora. Pedro lamentava os fatos ocorridos naquele apartamento confortável da área nobre da cidade. Ali foram longos dez anos de convivência com a filha da dona da pensão Ouro Verde. No ano de 1994, ele chegara à cidade de Vila Rosa, e hospedou-se na única pensão da cidade. Um rapaz de 22 anos, tímido, inseguro e inexperiente. Ele trazia embaixo do braço um diploma de engenharia de alimentos. Após algumas semanas o recém formado conseguiu uma vaga de estagiário na fábrica de laticínios Leite Bom. No intervalo de cinco anos alcançou o posto de diretor de assuntos estratégicos. O jovem engenheiro mudou de vida, comprou um carro e financiou um apartamento. Mas faltava-lhe uma esposa para completar a ascensão profissional e pessoal. Então conheceu Anita, uma moça bonita e gananciosa. Nos primeiros olhares a moça fisgou o coração do jovem engenheiro. Eles namoraram durante um ano e casaram-se finalmente. Anita engravidou de imediato. Ela apelava para que o filho nascesse idêntico ao marido. Após nove meses nasceu um garoto com características opostas a de Pedro. O jovem engenheiro era moreno, e cabelos crespos. Mas o bebê tinha olhos claros e puxados, cabelos lisos e pele branca. Os padrinhos estranharam as diferenças, mas disseram que todo bebê era igual nos primeiros meses. Todavia Pedro desconfiava de uma possível traição. Anita negava tudo e jurava amores eternos ao marido. Na manhã de 19 de março de 2004 uma figura estranha apareceu na cidade. Ele mal falava a língua portuguesa. O entrangeiro se comunicava através de gestos e mímicas. O homem bateu à porta de Pedro e queria conversar com Anita. Os dois conversaram durante algum tempo e o japonês revelou -se pai do garoto Bernardo. Pedro ficou estarrecido com a notícia. O jovem engenheiro perguntou: - Mas como aconteceu isto?. O japonês revelou que uma noite Anita ficava com Pedro e a outra noite encontrava-se com ele. Neste momento o jovem engenheiro vociferou, tentou expulsar a esposa de casa. Mas Anita bateu o pé, e falou que o apartamento também era dela. A discussão ficou acalorada. Os vizinhos escutaram dois tiros. Porém os únicos atingidos foram o garoto Bernardo e a filha da dona da pensão. O oriental foi preso por duplo assassinato e a Pedro somente restou a solidão e a decepção da traição. Após o triste episódio ele foi depor na delegacia. Durante o depoimento o delegado filosofava: - Pois é doutor Pedro. Não confie no japonês. Ele tem os olhos puxados, mas sempre fica de olho grande na mulher dos outros.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 10/01/2016
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