Quando não se é lembrado...

Era dia de defesa de mestrado…

La estava ele, sentado na plateia todo orgulhoso da sua amada, que apresentaria a defesa de mestrado.

Ele também sentia um pouco orgulhoso de si, afinal havia contribuído para aquele trabalho, já que foi ele quem praticamente digitou os textos, sem falar nas horas e horas que ficou nas noites, transcrevendo as entrevistas gravadas em fitas cassete.

Ela era realmente muito boa. Tudo que fazia, fazia bem feito, com contundência e ele tinha certeza que era iria se sair muito bem.

Embora o assunto não fosse da sua área, mas por ele ter participado da digitação, acabou por ficar ligado no contexto. Era evidente o seu nervosismo por ela.

Deu-se o início dos trabalhos...

Como é de praxe o aluno faz sua apresentação e descortina os agradecimentos.

Ela então começou agradecendo à Deus...

Depois agradeceu ao pai; depois à mãe.

Então ele pensou, agora vai me agradecer...

Mas ela agradeceu aos filhos.

Ele pensou é agora...

Mas nada, ela passou agradecer aos amigos, àqueles que ela achava que tinha sido importante na sua caminhada.

Deve ter me deixado por último – pensou ele.

Continuou os agradecimentos, foi a vez dos professores, depois o orientador.

Deve ser agora – pensou novamente.

Mas... ela deu início a apresentação da defesa propriamente dita.

Ele ficou um pouco decepcionado, mas pensou: deve ter deixado para fazer o agradecimento ao término.

E ficou ali, atendo a todos os detalhes e orgulhoso dela, afinal, estava se saindo muito bem.

Depois de quase duas horas de apresentação, já finalizando, ele ficou esperando que ela fizesse os agradecimentos, vai ser agora – pensou novamente.

Mas para sua grande decepção, ela não o fez.

Ele ficou num sentimento de decepção tão grande, que chegou a ficar com um nó na garganta. Era impossível na cabeça dele, que ela tivesse esquecido. Agradeceu a gente que nunca levantou uma palha, não contribuiu em nada e ele, que tanto fez, não foi lembrado.

Ficou ali, com o olhar incrédulo, até com vergonha de si próprio, de não ter sido lembrado.

Vieram os cumprimentos e ele, todo sem jeito, se sentindo um inútil, um pato fora d’água, ficou meio isolado da roda.

Era evidente a euforia da sua amada e todo o corpo docente, que dali sairiam para a comemoração num restaurante em um shopping.

Ele, um tanto quanto machucado pela decepção, arranjou uma desculpa e se ausentou por um bom tempo - tempo que ele avaliou que seria necessário para a comemoração.

Quando retornou, a reunião já se fazia desfeita e pelo visto, sua ausência nem fez muita falta.

Como lhe era peculiar, não fazia cobrança alguma, nem questionava nada, apenas prestava atenção aos “sinais” que a vida lhe proporcionava e os catalogavam.

E assim, um tanto quanto sem graça e desmotivado, mas sem deixar transparecer algum sinal desse sentimento, retomou a sua vida rotineira.

Mas algo dentro dele mudaria daquele instante em diante. Com certeza, não mais seria como dantes.

A vida apesar de não ter os melhores mestres, ainda é a melhor escola. Cabe a nós absorver o que ela nos ensina. Cabe a nós, prestarmos atenção aos sinais.

Precisamos ter cuidado nos momentos de agradecimentos, para não deixarmos ninguém que verdadeiramente mereça, de fora da lista ou como queira, de ser lembrado.

Precisamos estar sempre atentos para que os “encantos” não sejam quebrados, principalmente nos relacionamentos amorosos, porque o prejuízo pode ser irreparável.

Menino Sonhador
Enviado por Menino Sonhador em 31/12/2015
Reeditado em 10/12/2023
Código do texto: T5496855
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