O HAVAIANO

Um dos momentos mais tensos para Rinaldo foi a tão aguardada entrevista e os testes para a vaga de um novo emprego. Naquela manhã de inverno caia uma chuva fina que provocava no jovem advogado uma grande melancolia. Na sala do RH tinham cerca de 50 pessoas para a disputa do cargo de gerente de relacionamento. Esta função exigia formação acadêmica em qualquer área. Ali estavam candidatos formados em Engenharia Civil, Psicologia, Serviço Social, e até Medicina Veterinária. Todos estavam ansiosos diante da bateria de testes e dinâmicas em grupo previstos na programação do dia. Houve a divisão de dois grupos compostos de 25 pessoas cada um. Eles fariam exames psicotécnicos e entrevistas que definiriam um terço dos eliminados. Aquilo parecia um reality show. Cada candidato exibia as suas qualidades para vencer os seus concorrentes. A primeira dúzia foi eliminada nesta etapa. Os demais disputariam uma prova de resistência: uma redação. Neste teste eles não poderiam cometer nenhum erro ou rasura. Os critérios foram rigorosos, a ponto de permitir uma auditoria criteriosa e detalhada. Nesta etapa 25 candidatos foram reprovados por pequenas falhas. Rinaldo estava no grupo "sobrevivente". A definição dos doze restantes ficou para o dia seguinte. Na manhã do outro dia, houve uma prova de conhecimentos gerais. Os aprovados nesta etapa foram apenas três que disputariam uma vaga na empresa. Era uma espécie de final de campeonato. Este trio submeteu-se a um novo desafio. Eles, incluindo Rinaldo, deveriam "vender" um terreno na Antártica para um havaiano. Todos elaboraram os seus argumentos e se dirigiram à sala do chefe imediato. Na sala, os candidatos a postos aguardavam a hora do desafio. O tal "havaiano" adentrou àquela sala e passou a ouvir as indagações dos três candidatos. Eles argumentaram que os terrenos eram férteis e adequados à criação de caprinos e ovinos. Mas o diferencial entre eles foi a forma como usariam a sua argumentação. Rinaldo estava nervoso, principalmente por ser o primeiro a fazer a sua apresentação. Ele explicou as condições com que as criações de bode e galinhas sobreviveriam a baixas temperaturas, e como o esterco destes animais ajudariam na adubagem dos terrenos antárticos. O jovem advogado disse que uma roupa térmica envolveria o corpo das aves e caprinos. Um gorro especial cobriria os chifres dos bodes, e uma bota resistente para os pés das galinhas. O havaiano era ninguém menos do que o dono da empresa. Diante das argumentações o havaiano aprovou o projeto de Rinaldo com muitos elogios. Os dois candidatos eliminados não entenderam a aprovação de um projeto de criações de animais tão maluco. Mais tarde eles descobriram que o dono da empresa havia saído do mesmo hospício em que Rinaldo também fora paciente. O "havaiano" e o jovem advogado foram parceiros de várias "aventuras" no jardim da casa de saúde. Na visão deles, o jardim era um imenso tapete branco que assemelhava-se a Antártica. Os dois foram chamados por outros internos de "aventureiros do gelo". Agora, segundo eles, seriam parceiros de uma jornada vitoriosa que desbancaria até o presidente da Microsoft. Tudo bem ajuizado e inteligente.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 21/11/2015
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