A visita

Hoje eu visitei o meu passado. Estava de mãos dadas com o destino quando tudo aconteceu. O inesperado me levou pela mão até a época em que eu só vivia de pão. Eu sempre acreditei que quando essa visita acontecesse, eu teria um colapso, mas o tempo, o amor-próprio, um novo amor, a maturidade e tantas reviravoltas da vida me provaram o contrário. Mesmo que eu estivesse certo, eu sei que poderia haver um mal estar, mas seria algo interno. Eu não deixaria que qualquer fraqueza transparecesse. Não mesmo. Eu me mostraria forte, sereno, seguro. Bem, assim foi; mas entre mostrar e sentir tudo isso, meu coração e mente felizmente escolheram o segundo verbo. Eu sempre fui analítico e, de uns tempos pra cá, eu abracei a autoanálise. Descobri pensamentos, sensações e sentimentos inerentes a minh’alma nunca antes navegados. Entretanto, aquele sentimento era um enigma até então. Voltando à vaca fria, eu acreditava que o momento do encontro seria diferente. Eu o havia imaginado de tantas formas... Cheguei a me ver solitário e deprimido diante daquele outro ser a quem eu sempre endeusei. Em outro momento, eu me vi contando a ele sobre as mudanças que haviam ocorrido na minha vida, mesmo sabendo que isso não lhe importava nem um pouco. Outra possibilidade seria a de sentarmos num desses cafés, comendo “gordices” e trocando figurinhas como antigamente. Tantas coisas me vieram à mente e nenhuma delas realmente aconteceu. Na verdade, foi assim: eu estava almoçando quando o telefone tocou. Era um amigo, convidando-me para ir ao teatro. Ele pediu que eu comprasse os ingressos de antemão. Assim que terminei de almoçar, eu fui até a loja de CDs do meu pai, onde os tais ingressos são vendidos. Fiquei lá por um tempo, comprei os bilhetes e ao sair, dei de cara com aquele cara. Como disse anteriormente, eu esperava outra reação minha. Nós nos olhamos por dois segundos, cumprimentamo-nos e logo surgiram sorrisos tímidos de ambos os rostos. Notei que carregava uma criança no colo e sem que eu perguntasse coisa alguma, ele me contou que era sua filha. Eu o parabenizei e me despedi, afastando-me do local. Surpreendentemente, o que eu senti foi uma enorme paz interior e um desejo verdadeiro de que ele seja feliz. Assim que entrei no carro, eu pude vê-lo abraçando a esposa e aquilo não me abalou. Então, eu liguei o carro e vim para casa.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 03/10/2015
Código do texto: T5402908
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