Unhas roídas

Seus olhos não estavam ali. Estavam muito à frente, onde ninguém poderia imaginar. E sua imaginação, cada vez mais fértil, criava um mundo vindouro cheio de fantasmas e monstros. A realidade era bem outra; pelo menos, a do presente. Ele poderia estar numa sala cheia de amigos, mas seus pensamentos não estavam ali. Poderia estar cercado de familiares, mas sua vontade era de correr para bem longe; para um mundo onde o futuro trouxesse algo diferente do que ele acreditava que podia acontecer. E essa crença trazia impaciência, unhas roídas, pressão alta, entre outras coisas… Apesar de tudo isso, havia dentro dele outro lado; o da realidade. Esse lado dizia que tudo ficaria bem; que seus sonhos se realizariam e que nada seria capaz de impedi-lo de ser feliz. Ainda assim, ele insistia em não ouvir esse lado. Já estava acostumado a prestar atenção em seus pensamentos negativos por viver num mundo obscuro e solitário. Os amigos mais próximos sabiam de seu problema e tentavam trazê-lo para luz. Eles lhe traziam boas lembranças e mostravam que aqueles pensamentos eram incoerentes. Aquilo não surtia muito efeito, então, ele resolveu tirar a prova. Dando a cara pra bater, ele encarou os monstros. Ele decidiu ver o futuro. Percebeu que de nada adiantaria acreditar que a vida seria ruim. Ele teria que ter uma prova do contrário. E a prova estaria digitada num papel comum, mas de extrema importância. Esse papel traria notícias de seu passado e isso afetaria seu presente e seu futuro. O documento também diria se os monstros seriam medonhos e assustadores, se seriam divertidos como os dos desenhos animados ou se não haveria monstros. Os amigos estavam lá para apoiá-lo quando ele se submeteu à tal avaliação. Foram transmitir a ele muita energia positiva para que a negação se fizesse. O tempo tornou-se aliado, pois ele não trouxe nada do que ele imaginava. E quanto mais ele passava, mais a certeza da negação se fixava nas cabeças de seus amigos, mas na dele, não. Nunca um “não” foi tão almejado. Nem quando ele teve catapora, nem quando ele quase morreu por ser atacado por um urso no zoológico, nem quando ele levou um pé na bunda. Então, logo o papel estava em suas mãos trêmulas. Estava dentro de um envelope que foi aberto bem devagar. Naquele momento ele percebeu que não estava sozinho, independentemente do resultado de seu teste. Foi então que a negação foi lida e, como uma grávida que abraça sua positividade, ele sorriu alegremente por saber que seu futuro seria bem mais claro e feliz do que imaginava. E seu sorriso de alívio contagiou outros rostos e levou alento aos corações dos demais.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 20/07/2015
Reeditado em 20/07/2018
Código do texto: T5317525
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