Scooby-Doo

Eu tive um pequeno cachorro sem raça definida e que tinha as cores beije e branca. Só faltava falar comigo. Havia um relação tão intensa que a família toda se espantava. Eu era o seu "dono". Tinha sido escolhido por ele. Deitava no tapete da sala ao meu lado, se sentia frio encostava seu pequeno corpo no meu para se aquecer. Eu chegava do trabalho muito cansado e tenso e lá ia meu amigo lamber minhas costas na altura dos ombros como se a aliviar minha tensão. Morreu de velhice aos quinze anos. Não o vi morto e agradeço a Deus por isso. Mas como se fosse uma predestinação ganhei outro, desta vez maior e negro, Scooby-Doo. que apelidei de Scooby-Dois. Por razões inexplicáveis, resolveu-se que esse deveria ficar contido num espaço na lateral de nossa casa, medindo cerca de um e meio metros por cinco.

Lamento muito ter consentido com tal absurdo. Um cão sadio, esperto, diria até inteligente por que razão deveria ficar contido naquele espaço:para que não sujasse a casa, para que não escavasse o jardim ou simplesmente para não incomodar?

Como o cão anterior esse também escolheu-me para ser seu "dono". Nós nos amávamos. Um dia ele fugiu e ficou cerca de uma semana desaparecido, mas voltou. Magro, faminto e sujo, mas voltou para mim. Lambeu-me, latiu feliz, mas foi novamente confinado. Que absurdo!

No dia sete de agosto de dois mil e sete eu sofri um enfarto (leve) e fui submetido aos procedimentos de cateterismo e angioplastia. Voltei para casa depois de cinco ou seis dias internado. Lá estava meu amigo a me esperar. Latiu feliz, lambeu-me e pediu para repartir com ele o pedaço de frango que eu comia, como fiz muitas vezes. Era um hábito.

Em outubro, mês de meu primeiro nascimento, já que considero o mês de agosto como meu renascimento, meu cão ficou doente assim de repente. Fui até seu confinamento e cuidei dele, dando-lhe água e medicamentos via seringa que ele aceitava sem reclamar. Certo dia eu o ouvi ganindo e fui até lá. Que cena triste: meu cão agonizava olhando nos meus olhos como se pedindo socorro. Deus! Jamais vou esquecer aquele olhar triste. Chamei o veterinário e enquanto este não chegava fiquei com a cabeça do meu cão pousada sobre minha coxa, ambos no chão. O profissional chegou e constatou a morte de meu amiguinho. Chorei. Perdoe-me, meu querido amigo. Sinto tanto em tê-lo privado da liberdade de correr, pular e talvez ser mais feliz.

Diz a lenda que nesses casos o animal morre no lugar da pessoa que ele tenha escolhido para ser seu dono. Acredito nisso. Adeus, meu anjo negro! Acho que eu não merecia o seu sacrifício, mas agradeço e espero um dia revê-lo em outra encarnação! Saudades, Scooby-Dois!

AGOSTINHO PAGANINI
Enviado por AGOSTINHO PAGANINI em 02/05/2015
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