JEQUITINHONHA

Sozinha, sentada na porta de um casebre, no coração ressequido do Jequitinhonha, vivia dona Raimunda.

Na cabeça um lenço de chita já bem antigo, nas mãos envelhecidas pelos raios do sol, um terço feito de grãos de mamona seca, uma planta comum na região.

No terreiro de terra batida, algumas galinhas caminhavam buscando areia e outros tipos de alimentação.

Nos fundos da casinha, um pé de bananeira, um tímido riacho já meio sem vida e com suas águas enferrujadas.

Ao redor do terreiro, uma cerquinha feita de bambu, bem na entrada, uma porteira de arame jogada ao chão...

Um Paiolinho sem milho, bem no cantinho dele, uma gatinha dava de mamar para seus filhotes.

Um cachorrinho vira-lata de cor amarela dormia quase em cima dos pés de dona Raimunda.

No céu, lindas nuvens iam passando lentamente, fazendo sombras aos raios do sol.

Mas chuva que era bom há muito tempo não vinha.

Da porta da sala de onde estava sentada dona Raimunda, havia uma visão panorâmica do vale ressequido.

Ela ficava observando as pessoas que ao longe passavam na estrada principal.

Eram crianças e gente grande que a pé iam a busca sabe lá de que.

Do terço ela ia arrancando as aves Marias, iam lapidando-as e mandando todas para céu.

Solitária, dona Raimunda esperava crescer a batata doce, aguardava chegar ao ponto o mandiocal, torcia para que o nhame plantado na biquinha crescesse.

E que o feijão conseguisse pelo menos alguns grãos para colocá-los na panela.

Meio faminta dona Raimunda rezava pedindo ao Pai do Céu que mandasse chuva, e bênçãos para os seus filhos e seu esposo que estavam no interior de São Paulo, cortando cana.

Rezava para que voltassem logo e com o minguado dinheirinho.

Pois lá, nem isso tinha!

Assim dona Raimunda ia passando os seus dias no sertão ressequido.

Casa de pau-a-pique, coração rezador, fé autentica, assim era a vida!

É isso aí

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 20/04/2015
Código do texto: T5214250
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