Depois do conto de fadas

Ela havia chegado tarde de seu encontro. Ele já estava dormindo. Ao vê-lo ali deitado na cama, testemunha de tantos e tantos momentos felizes, ela se sentiu aflita e arrependida por seu gesto. O tic-tac do relógio ia ao mesmo compasso da batida de seu coração dividido. Em sua mente se passavam os mais terríveis pensamentos. Temia ser humilhada e agredida pelo parceiro se por acaso ele descobrisse tudo, tinha medo de perder tudo que considerava importante, receava ter que voltar a morar com sua mãe, que, por sinal, era muito séria. E sentia uma culpa enorme por ter se deixado levar por seus impulsos mais íntimos e ainda agir sorrateiramente como um ladrão no meio da madrugada. Chegou, banhou-se e silenciosamente vestiu seu lindo baby-doll, deitando ao lado daquele corpo inerte. Tratou de não acordá-lo; seria muito perigoso, pois o rapaz andava ciumento e a cravaria de perguntas. No dia seguinte, eles se levantaram às sete da manhã. Tomaram banho e café juntos, mas saíram separados; cada um em seu carro. Aquela era uma manhã fria de inverno e chovia muito. Ela, como de costume, telefonou do trabalho para o marido para lhe perguntar o que gostaria de almoçar. Ele respondeu que não almoçaria em casa e que faria um lanche por ali mesmo. Ela, que já havia voltado do serviço, pois trabalhava meio período apenas, lembrou-se que precisaria fazer compras e começou a listar o que seria necessário. O mercado ficava próximo ao escritório onde seu marido trabalhava; o que era relativamente longe para que ela fosse a pé. Enquanto saía de casa e entrava no carro, ela ficou pensando no que havia feito e se flagelando por dentro. Respirou fundo e entrou no carro, seguindo em direção ao supermercado. Apesar da chuva, a visibilidade não era tão ruim. Foi então que ao parar no último semáforo, próximo ao escritório, ela constatou que o chumbo era trocado. A saia da secretária de seu esposo era curtíssima e essa entrou em seu carro e os dois seguiram juntos em direção a um motel bem perto dali. Surpresa e alívio ao mesmo tempo. Fingiu não ter visto nada, fez suas compras calmamente, saindo do supermercado com um ar arrogante. Voltou para casa e ligou para o amante. E eles viveram assim para sempre.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 07/03/2015
Reeditado em 09/03/2015
Código do texto: T5161797
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