Antes, agora e depois

“Vivo sempre o presente. O futuro, não o conheço. O passado, já não o tenho.”

Fernando Pessoa

Lá estavam os três num salão enorme. Cada um de um lado. O mais velho sentou-se onde havia quadros, grafites e algumas caixas de papelão. O do meio (em posição familiar e lugar) estava onde podia expressar toda sua criatividade. O lugar estava vazio, porém, diferentemente de seus irmãos, ele era o único que (em tempo real) podia fazer o que quisesse. O caçula era a grande preocupação dos pais, pois sabiam que ele dependeria dos outros dois irmãos. Então seus pais chegaram. Vinham devagar e com muita sabedoria, Vida e Cronos deram a cada um de seus filhos uma caixa. Os rapazes tinham pontos de interrogação em seus rostos, porém o pai explicou que após abrirem suas caixas, eles teriam que lidar com o que nela estivesse. Cronos sabia que aquilo seria um grande desafio e por isso fez com que não houvesse competição, ou seja, cada um cuidaria de seus pertences, sem discussões, nem sentimentos de injustiça. Então o mais velho abriu sua caixa. Nela havia algumas tiras de papel com as seguintes palavras: “amor, dor, desilusão, tristeza, alegria, confusão, ontem, rejeição e emoção.” Ao lê-las, o rapaz indagou o motivo daquilo e Vida logo explicou que ele (mesmo sem saber) já havia passado por tudo aquilo e que teria que tirar uma lição. Então, o rapaz começou a pensar em que parte de seus momentos cada palavra se encaixaria. Abraçou lembranças incríveis e começou a perceber que estava cercado por todas elas. Vida pediu que ele tentasse ver tudo como experiência; que enterrasse o que havia sido ruim e mantivesse o melhor. Então, o rapaz começou a trabalhar isso. Depois, os pais foram em direção ao segundo filho. Ele roia as unhas e, ao mesmo tempo, tinha medos, pois seu irmão mais velho havia lhe contado muitas de suas aventuras e aquilo o assustava. O casal pediu que ele abrisse sua caixa e lá estavam: “hoje, paciência, alegria, motivação, metas, sonhos, altos e baixos, fé, amor e atitude.” O rapaz ficou confuso. Não sabia o que fazer, mas tinha muita força de vontade. Então seus pais o nortearam e mostraram que ele teria que lutar sempre para manter tudo que lhe foi dado. Teria também que acreditar mais em si mesmo e menos nos outros, sem deixar que a amargura tomasse conta de seu coração. E assim o filho do meio focou em seus afazeres. Por último (e não menos importante) veio o caçula. Vida e Cronos olhavam para seu último rebento e pediram que ele abrisse a caixa. Na verdade, ele já havia feito isso e lido o que ela continha: “incerteza, sucesso, fracasso, recuperação, manutenção, aprendizado, coragem, segurança, saúde e ciclo.” Apesar de ser o filho caçula, ele seria o mais sensato, pois aprenderia muito com seus pais e seu irmão mais velho e teria a responsabilidade de ser melhor que o irmão do meio, mesmo sabendo que uma daquelas palavras com as quais teria que lidar poderia influenciar negativamente nisso: a incerteza. Depois de um tempo, os pais resolveram ajudar seus filhos. Cronos abençoou a todos. Deu ao mais velho uma boa dose de sabedoria para poder lidar com suas emoções e sentimentos tortuosos. O filho do meio foi abraçado por ele. Precisava de afago e o pai resolveu ficar por ali. A ele foi dada a esperança. Enquanto isso, a mãe Vida se aproximou do filho mais novo e lhe deu um beijo na testa, trazendo paz, sensibilidade e maturidade para olhar para seus outros irmãos sem se contaminar pelos antigos sentimentos negativos do mais velho, nem se afetar pela ansiedade do filho do meio. E ali estavam o ontem, o hoje e o amanhã.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 06/03/2015
Código do texto: T5159923
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