MINHA HISTÓRIA ESCOLAR

Nasci na cidade de Maceió no estado de Alagoas, em um bairro modesto chamado Vergel do Lago, lá existe uma imensa lagoa, onde eu e meus cinco irmãos costumávamos brincar de pega-pega, sentindo o aroma de terra molhada e o cheiro inesquecível de crustáceo. Esperávamos à chuva cair para correr e sentir a brisa suave na face. De uma família de poucos recursos financeiros, meu pai topógrafo de paixão e minha mãe costureira viviam conforme a vida oferecia. Com cinco anos de idade era muito feliz em família.

Estudava em uma escola pública, iniciando a vida escolar no ano de 1966, que foi para mim a descoberta de um novo caminho, o qual me conduziu a conhecer melhor a vida, as pessoas e tudo que me cercava. O contato com as primeiras letras foi sem dúvida motivo de alegria. Estudei de 1ª a 4ª séries, atualmente do 1º ao 5º anos, no grupo escolar Sete de Setembro. As minhas reminiscências do primeiro contato com uma escola me remetem a um passado bastante significativo em minha vida era como cruzar fronteiras e conquistar novos horizontes. Estudar novas disciplinas que nunca antes vistas era como abrir um leque de opção, um mundo novo de infinitas descobertas. Lembro-me do meu impecável fardamento, a saia azul de pregas e blusa branca com gravatinha era um uniforme de orgulho, a surpresa em cada lição estudada deixava-me fascinada. Lembro-me do carinho, da dedicação, das broncas e dos elogios da minha primeira professora dona Albertina Ferreira, que tanto admirava.

Mas algo terrível marcou completamente minha história escolar. Último dia de aula na 2ª série do antigo Ensino Primário. Uma jovem professora que não recordo o nome era estagiária substituta da queridíssima Albertina Ferreira. Aproximei-me subitamente, indaguei a nova educadora, onde minha professora Albertina encontrava-se. Ela hesitou por um momento. “Então, muito bem”, disse. Você quer a verdade, você terá a verdade – dona Albertina Ferreira, professora de sua turma, faleceu essa manhã do coração. Minha vista escureceu completamente, sem rumo corri pela relva sem saber o que fazer. Não contei às horas que percorri os arredores sem parar, quando minhas pernas já não aguentavam de tanta dor, deitei na terra molhada pela chuva e adormeci profundamente.

Senti quando alguém suavemente tentava me acordar, não queria ouvir ninguém. E em minha mente só havia um propósito rever minha idolatrada mestra nem que fosse pela última vez. Perguntei aos quatro cantos do mundo onde podia acha-la, mas ninguém sabia informar. Resolvi perguntar ao padre da igreja local e o mesmo disse-me que minha amada professora estava sendo velada na sala paroquial. Entrei com medo no recinto e aproximei-me devagar do caixão que estava no centro do salão. Lágrimas rolavam pela minha face, muita dor estava presente em meu coração, mas todo sofrimento foi minimizado ao olhar para o semblante da minha inesquecível professora. Dona Albertina parecia sorrir para mim, um anjo de beleza e formosura, então deduzi que ela sentira-se feliz no momento da partida, beijei-a no rosto e sai. Esses momentos foram únicos para meu crescimento pessoal.

Eu sabia que as coisas nunca mais seriam como antes, e que Dona Albertina Ferreira não seria mais minha professora primária.

Passei as férias de verão com meus pais e irmãos na casa de primos em Recife, e, quando voltei para a escola tinha certeza que minha admirável professora Albertina Ferreira não estaria mais lecionando no grupo escolar. Mas tinha certeza que a mesma estava embelezando um lugar no céu.

Uma nova professora, dona Luiza Fontes, chegara a minha turma. Sua dicção era suave e precisa. Logo aprendi a gostar das aulas.

Minha vida passou rápida, hoje aqueles momentos são apenas recordações eternizadas pelo tempo. Felizes lembranças de uma professora dedicada e muito amada.

Recife, 24 de fevereiro de 2015.

ELISABETE LEITE

(Versão original)

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 28/02/2015
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