Plutão

ANTÍTESE (PLUTÃO)

Um anjo foi enviado à Terra para uma missão especial. Ele desceu discretamente, caminhou até determinado ponto e esperou pelo ônibus certo. Ao entrar, sentou-se na última poltrona, pois dessa forma, conseguiria observar as atitudes dos demais passageiros. Seus olhos enxergavam a todos, sem que ninguém pudesse sequer vê-lo. Entretanto, alguns sentiam sua presença, fosse por um aperto no peito, fosse por um amargo na boca. O anjo não conhecia bem os históricos de todos que ali estavam, então começou a ler suas mentes e a cada leitura que fazia, ele se sentia mais e mais horrorizado. Das oito pessoas do ônibus, uma era dona de casa. Ela planejava matar seu esposo assim que ele chegasse do trabalho, colocando cicuta em seu uísque. A outra, uma vendedora ambiciosa, pretendia se casar por interesse e como a ex-namorada de seu noivo era sua colega de trabalho em uma joalheria, ela a incriminaria de latrocínio. Um deles (um bandido infame) tinha uma arma e assaltaria os demais passageiros. O rapaz magrelo que se sentou do lado do assaltante pretendia raptar sua vizinha de oito anos para tirar proveitos sexuais e financeiros. Logo atrás, estava outro crápula que queria roubar um banco e, assim que descesse do ônibus, juntar-se-ia à sua gangue para realizar essa má ação. Por último havia uma mulher com um bebê no colo. Usava um xale rosa e ninava seu filhinho com uma paciência enorme. Ao vê-la, o anjo sorriu e logo seu sorriso deu lugar a uma ruga na testa, pois ele não conseguia penetrar nos pensamentos daquela mulher. Mesmo sem entender o motivo e sabendo que precisava agir antes que mais alguém entrasse no ônibus, o anjo rapidamente tomou uma atitude. Ele se aproximou do motorista e também não conseguiu saber o que se passava em sua cabeça. Frustrado, mas decidido, ele tampou seus olhos. Esse, por sua vez, perdeu a direção do veículo. Todos os passageiros entraram em desespero e logo perceberam o que estava por vir. A mulher com a criança no colo começou a rezar fervorosamente e em pouco mais de 15 segundos, o ônibus estava tombado. O anjo saiu do veículo e começou a resgatar as almas. Tentou, sem sucesso, levar as do motorista, da mulher e da criança de colo, mas sentiu que, diferentemente dos outros corpos, aqueles ainda estavam quentes e suas almas ainda presas neles. Logo chegou uma ambulância e resgatou os sobreviventes. Morte e vida se encontraram ali. Nos jornais podiam-se ler manchetes que chamavam de vítimas fatais os possíveis malfeitores e de milagres os inocentes.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 29/07/2014
Reeditado em 27/01/2015
Código do texto: T4901495
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