Verônica II

E nesse intervalo de tempo, onde a lembrança já era turva, ela decidiu que queria morrer, ali mesmo. Naquele instante, como se não houvesse amanhã, como se não houvesse outra chance. Desacreditou em tudo e em um segundo e meio, desabou. Deixou-se cair, descoloriu-se, desfolhou-se, abandonou-se, desapegou-se, e chorou. Se entregou, era isso que bastava. Verônica deslaçou-se. No meio da multidão que a acompanhava pela calçada, nos ônibus, pelos céus. Pessoas que acompanhavam sua morte, acompanhavam sua dor, suas lágrimas. Verônica, não se intimidou, continuou sua morte, andando. Continuou morrendo. Ao passar pelas lojas, pela padaria, pelo boteco, pelas vitrines. Foi morrendo ao passar pela calçada que esperava pelos seus passos. Cada passo uma morte, cada suspirar um óbito.

Todos ali eram testemunhas de sua morte, e eram culpados também.

Verônica experimentava a morte a cada instante, e brilhava também após os intervalos fúnebres com a coragem de querer ainda se sentir viva, como uma água viva, ou simplesmente como uma mulher que deseja a demora magia de ser beijada.

19/07/2014

Brígida Oliveira
Enviado por Brígida Oliveira em 20/07/2014
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