QUE VERGONHA = EC
Quando o Padre Betinho chegou à cidade foi recebido com uma ponta de desconfiança.
Por mais de trinta anos, o vigário da cidade fora o Padre Felix, homem sério de princípios rígidos estimados pelos mais velhos, temido pelas crianças, respeitado por todos.
Ultimamente, já bem velho, fazia monótonos sermões com voz rouca, sem entusiasmo nem muita convicção. Apenas repetia o que vinha fazendo há anos recusando, sem nem mesmo analisar, toda e qualquer mudança que fosse sugerida.
Agora fora recolhido a um convento onde viveria o resto de sua vida numa espécie de aposentadoria e para substituí-lo chegou à cidade o Padre Umberto que se apresentou como Padre Betinho.
Padre Betinho era a antítese de seu antecessor. Muito jovem, bonito, animado, fazia elaborados sermões com voz forte, sempre atualizado, estava sempre a par de todos os acontecimentos mais marcantes e tinha sempre a interpretação dada em nome da Igreja que amava e respeitava, conquistou em pouco tempo a simpatia e admiração de quase toda a população da cidade.
Com seu carisma e simpatia atraiu em pouco tempo as crianças e os jovens que se tornaram assíduos à Igreja, principalmente as moças, que, diga-se de passagem, se encantavam mais com seus belos olhes verdes do que com a excelência de seus sermões.
Quem não via com bons olhos o jovem padre era Tomaz, o prefeito da cidade, que pensava que seu cargo lhe dava o direito de imiscuir-se em todos os assuntos e até determinar quem podia ou não residir na cidade.
Sempre que alguém falava do padre, elogiando sua disposição, falando de sua dedicação e sua competência ele rebatia:
-- A mim ele não engana. Esse desmiolado vai acabar se revelando. Vocês vão ver.
Quando chegou o carnaval o Padre organizou um retiro espiritual para moças e rapazes. Prometeu que além das práticas religiosos haveria muita recreação, música, competição esportiva, brincadeiras e tal.
Mas, no domingo gordo haveria um baile de máscaras e a moçada estava muito dividida. Se por um lado queriam participar do retiro espiritual, por outro não queriam perder o baile.
Depois de uma eloquente pregação sobre os perigos das festividades carnavalescas, o padre estava na sacristia quando foi abordado pela Santina, uma linda e piedosa moça, “Filha de Maria.”.
Vinha fazer uma espécie de confissão, falar da vontade que sentia de ir ao baile e perguntar se isso realmente seria pecado.
Santina tinha uma secreta paixão pelo padre e esse era o motivo pelo qual ainda tinha dúvidas se ia ao baile ou ao retiro.
Os dois conversaram, discutiram amigavelmente e chegaram à conclusão de que o simples fato de ir a um baile de máscaras, não era nada pecaminoso, e foram mais além, o padre acabou confessando que ele também tinha muita vontade de participar dos festejos
carnavalescos, e até achava que devia ir, pois, como podia ter uma opinião formada sobre algo que não conhecia?
E os dois acabaram fazendo um pacto ousado. Eles iriam normalmente ao retiro, mas na noite do baile, quando todos estivessem dormindo, fugiriam juntos e iriam espiar o baile, devidamente mascarados, é claro.
Tudo acertado, na calada da noite, saíram dos respectivos alojamentos e, dentro do carro vestiram as fantasias e colocaram as máscaras.
Estavam com a adrenalina a mil, como se estivessem enfrentando o desafio dos desafios. Nunca tinham dançado, mas quem é que não conseguia arrastar os pés ao som de uma marchinha carnavalesca nos anos 30?
Aos poucos toda a inibição desapareceu e eles misturaram-se aos foliões e soltaram-se.
De repente, um tumulto. Um bandido mascarado, perseguido pela polícia, entrou no salão e o policial deu ordem para que as portas fossem fechadas e todos tirassem as máscaras.
Vendo aquilo, os dois assustados tentaram escapar por uma saída lateral, mas, já na rua um soldado apontou-lhes uma arma e ordenou que tirassem as máscaras.
Não tiveram alternativa que não fosse obedecer e, quando o policial os reconheceu, esqueceu-se de sua postura austera, baixou a arma e deu uma gargalhada.
Desesperado o padre pediu a ele que não contasse para ninguém, sabendo que isso era quase impossível. Quem resistiria a uma fofoca dessas?
Padre Betinho deixou a cidade, Santina ficou com a reputação abaixo de zero e o Prefeito Tomaz orgulhou-se de sua predição:
-- Eu não disse? QUE VERGONHA!
Quando o Padre Betinho chegou à cidade foi recebido com uma ponta de desconfiança.
Por mais de trinta anos, o vigário da cidade fora o Padre Felix, homem sério de princípios rígidos estimados pelos mais velhos, temido pelas crianças, respeitado por todos.
Ultimamente, já bem velho, fazia monótonos sermões com voz rouca, sem entusiasmo nem muita convicção. Apenas repetia o que vinha fazendo há anos recusando, sem nem mesmo analisar, toda e qualquer mudança que fosse sugerida.
Agora fora recolhido a um convento onde viveria o resto de sua vida numa espécie de aposentadoria e para substituí-lo chegou à cidade o Padre Umberto que se apresentou como Padre Betinho.
Padre Betinho era a antítese de seu antecessor. Muito jovem, bonito, animado, fazia elaborados sermões com voz forte, sempre atualizado, estava sempre a par de todos os acontecimentos mais marcantes e tinha sempre a interpretação dada em nome da Igreja que amava e respeitava, conquistou em pouco tempo a simpatia e admiração de quase toda a população da cidade.
Com seu carisma e simpatia atraiu em pouco tempo as crianças e os jovens que se tornaram assíduos à Igreja, principalmente as moças, que, diga-se de passagem, se encantavam mais com seus belos olhes verdes do que com a excelência de seus sermões.
Quem não via com bons olhos o jovem padre era Tomaz, o prefeito da cidade, que pensava que seu cargo lhe dava o direito de imiscuir-se em todos os assuntos e até determinar quem podia ou não residir na cidade.
Sempre que alguém falava do padre, elogiando sua disposição, falando de sua dedicação e sua competência ele rebatia:
-- A mim ele não engana. Esse desmiolado vai acabar se revelando. Vocês vão ver.
Quando chegou o carnaval o Padre organizou um retiro espiritual para moças e rapazes. Prometeu que além das práticas religiosos haveria muita recreação, música, competição esportiva, brincadeiras e tal.
Mas, no domingo gordo haveria um baile de máscaras e a moçada estava muito dividida. Se por um lado queriam participar do retiro espiritual, por outro não queriam perder o baile.
Depois de uma eloquente pregação sobre os perigos das festividades carnavalescas, o padre estava na sacristia quando foi abordado pela Santina, uma linda e piedosa moça, “Filha de Maria.”.
Vinha fazer uma espécie de confissão, falar da vontade que sentia de ir ao baile e perguntar se isso realmente seria pecado.
Santina tinha uma secreta paixão pelo padre e esse era o motivo pelo qual ainda tinha dúvidas se ia ao baile ou ao retiro.
Os dois conversaram, discutiram amigavelmente e chegaram à conclusão de que o simples fato de ir a um baile de máscaras, não era nada pecaminoso, e foram mais além, o padre acabou confessando que ele também tinha muita vontade de participar dos festejos
carnavalescos, e até achava que devia ir, pois, como podia ter uma opinião formada sobre algo que não conhecia?
E os dois acabaram fazendo um pacto ousado. Eles iriam normalmente ao retiro, mas na noite do baile, quando todos estivessem dormindo, fugiriam juntos e iriam espiar o baile, devidamente mascarados, é claro.
Tudo acertado, na calada da noite, saíram dos respectivos alojamentos e, dentro do carro vestiram as fantasias e colocaram as máscaras.
Estavam com a adrenalina a mil, como se estivessem enfrentando o desafio dos desafios. Nunca tinham dançado, mas quem é que não conseguia arrastar os pés ao som de uma marchinha carnavalesca nos anos 30?
Aos poucos toda a inibição desapareceu e eles misturaram-se aos foliões e soltaram-se.
De repente, um tumulto. Um bandido mascarado, perseguido pela polícia, entrou no salão e o policial deu ordem para que as portas fossem fechadas e todos tirassem as máscaras.
Vendo aquilo, os dois assustados tentaram escapar por uma saída lateral, mas, já na rua um soldado apontou-lhes uma arma e ordenou que tirassem as máscaras.
Não tiveram alternativa que não fosse obedecer e, quando o policial os reconheceu, esqueceu-se de sua postura austera, baixou a arma e deu uma gargalhada.
Desesperado o padre pediu a ele que não contasse para ninguém, sabendo que isso era quase impossível. Quem resistiria a uma fofoca dessas?
Padre Betinho deixou a cidade, Santina ficou com a reputação abaixo de zero e o Prefeito Tomaz orgulhou-se de sua predição:
-- Eu não disse? QUE VERGONHA!
Este texto faz parte do Exercício Criativo -
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