Reza matinal

A reza de domingo na igreja mal acabava, e os senhores já iam para o campo e se colocando nas posições para o início do estranho jogo das tarrafas.

Os filhos, crianças ariscas, ficavam de pé ao lado assistindo, mas, queriam mesmo era participar.

Os pais, com fisionomias duras e secas, trejeitando gestos de aborrecimento, afastavam as crianças com promessas de castigo, afirmando que aquele jogo era somente para adultos homens, enquanto elas corriam atrás de outras brincadeiras, ansiosas por diversão.

Entre as folhas verdes e avermelhadas do outono, que se precipitavam das árvores, elas corriam em busca de um esconderijo brincando de pique- esconde.

As mulheres deixavam os maridos jogando suas tarrafas, as crianças brincando, e vagarosamente atravessavam a praça que levava à minha casa que ficava em frente à igreja.

Animadas, traziam muitas novidades e fofocas. Lembro-me de sempre ouvi-las falando mal dos maridos e suas traições, enquanto minha mãe tentava amenizar o assunto, fazendo-as não darem tanta importância para esses fatos que só serviam para envenenar a alma.

Eram servidos para as senhoras, roscas, café, biscoitos e doces que minha mãe fazia especialmente para os domingos, conseguindo arrecadar algum dinheiro para a sobrevivência na semana seguinte.

As crianças eram as principais devoradoras dos doces e suspiros, ganhando ainda mais energia para correrem fugindo da rotina semanal.

O acanhado lugarejo parecia só existir nos domingos. Era festa contínua.

A única igreja que o lugarejo abrigava, não tinha padre fixo, e ele somente comparecia em tempos de batizados, casamentos e festas religiosas, mas era aberta religiosamente todos os domingos para reza matinal.

Os moradores da região e arredores compareciam de maneira fiel, todos os domingos, e o lugarejo ganhava vida. Ficava movimentado, principalmente pelos gritos e brincadeiras dos infantis e juvenis que enchiam todos os espaços com sua alegria.

Era festa domingueira e o desejo de permanecer ali pelo máximo de tempo, fazia-os momentaneamente esquecer a dura rotina da roça.

Quando o dia começava a declinar, silencioso o lugarejo se entristecia. Vertia lágrimas pela inevitável solidão.

As famílias, melancólicas pelo fim de mais um festivo domingo, pegavam o caminho pelas sombrias matas, de volta às suas casas, esperançosas da reza do próximo domingo.