Náufraga

Fim de tarde, e o sol vagarosamente ia declinando cumprindo seu ciclo na natureza.

Enclausurada completamente em meu juízo, deixo que a fragilidade se apodere lentamente da minha alma.

Pensativa, olho para as paredes brancas que me cercam. Meu olhar se fixa nelas. Tão brancas. Irritadamente brancas. Inesperadamente vem-me o desejo de insultá-las e esbofeteá-las, mas elas permanecem ali indiferentes à minha raiva. Quero exprimir meu sentimento de angustia, mas elas não me ouvem.

Sinto-me perdida numa ilha. Sou uma naufraga.

Tudo parece em desequilíbrio. Não há sintonia.

Desejaria imaginações leves que flutuassem como as folhas de outono, e levassem minha alma inquieta a um tranqüilo lugar para repousar.

Desejaria passar despercebida neste dia, mas nem mesmo os programas na TV, me deixam esquecer.

Permaneço eu, imóvel no meu casulo, aprisionada pela falta de vontade de dar um passo a frente, ou em qualquer direção. Agonizando.

Através da minha janela, era possível ouvir vozes, e aproximando para olhar, desejaria eu estar lá naquele grupo de pessoas alegres, extrovertidas contando coisas engraçadas.

Uma súbita vontade toma conta de mim, e penso ir ao cinema, mas não demora, já desisto acreditando que fatalmente minha solidão me acompanharia.

Estava sentindo pena de mim mesma. Eu estava vulnerável de um jeito que ainda não tinha me sentido.

Sentei-me em posição para invocar um velho mantra, na tentativa de acalmar minha mente, mas os pensamentos ruidosos insistiam em permanecer ali.

Pego a caneta e começo a rascunhar bobagens, para esquecer um pouco este meu estado deplorável que os dias de domingo me transformam.