Depois dos Quarenta

Nádia penteou os cabelos enfrente ao espelho, não sabia por que, mas lembrou da infância. Duas gurias com aproximadamente dez ou doze anos de idade vindo da escola conversavam sobre o ano 2000 e faziam contas da idade que teriam. Quarenta anos concluíram, Nádia imaginava-se silenciosamente, não diria a colega que o pensava, estaria gorda com dois ou mais filhos. Trabalhando ou sendo só uma simples dona de casa cuidando de tudo satisfeita. Aos trinta e nove anos de idade estava divorciada sem filhos desesperançada e morta de medo de envelhecer sozinha. Sem um emprego decente vivendo de bicos morando de favores no fundo do pátio de um parente. Queria fazer coisas, mas estava amarrada num marasmo de vida, prostrada sentindo-se doente por dentro e por fora. Tinha planos que não sabia como realizar ideias que não sabia para onde direcionar. Queria namorar sair, mas sentia-se feia os dentes os cabelos lhe causavam uma enorme tristeza e nem dinheiro tinha para arrumar. A vida começa aos quarenta e quando essa idade chegou continuava do mesmo jeito, mas de um jeito diferente, riu dessa frase parecia contraditória o que fazer era desse jeito que se sentia. Aprendeu a rir de tudo de si mesma e aceitar essa condição imposta por ela própria. Odiava o serviço doméstico, mas aprendeu a suporta-lo ou voltasse a estudar, tentou muitas vezes e nunca concluía. Até aparecer o supletivo sem precisar frequentar aulas todos os dias. Terminou o ensino médio sentiu-se orgulhosa aos quarenta e dois anos um emprego fixo todo mês um salário alugou uma casa. Dava para pagar uma consulta ao dentista arrumar o cabelo. Nádia transformava-se aos poucos a autoconfiança chegava devagarinho a cada conquista um armário, fogão, guarda-roupas, uma sala um quarto a cama Box... Um namorado as decepções nada que não tivesse acontecido tantas vezes na juventude. A gravidez de risco, mas bem vinda os gêmeos a plenitude ser mãe. Fraldas mamadeiras escolinhas com quem deixar as manhas noites acordadas, os abraços os beijos a felicidade, vida. Tudo tão rápido não deu nem tempo para o arrependimento, alegria sorrisos infantis correria dentro de casa brigas. Festas, concursos públicos emprego para vida toda companhia sem compromissos, independência financeira, casa própria. Hoje enfrente ao espelho penteando os cabelos ouvindo a algazarra dos guris no pátio com o padrasto que impôs sua presença até ela aceita-lo como marido. Sorria por dentro e por fora prestes há completar cinquenta anos. Não prostrada velha se sentindo incapaz mais bonita jovem com poucas rugas no rosto, magra nem tanto mais inteira para quantos anos Deus quiser lhe dar. Junto dos três amores da sua vida esses que impuseram suas presenças em sua vida. Nádia levantou-se indo até a janela espia-los sussurrando enquanto acenava “amo vocês...”.

RÔCRÔNISTA
Enviado por RÔCRÔNISTA em 26/09/2013
Reeditado em 03/10/2013
Código do texto: T4499459
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