O lírico canto

Durmo ébrio, o galo canta. Durmo sóbrio, o galo canta. Durmo cedo, o galo canta. Durmo fora de casa, dizem que o galo canta. Durmo pouco tempo, o galo canta e me acorda. Não durmo, o galo canta. Eu durmo, etc. Amanheço, o galo parou de cantar. Amanhã ele cantará. Fumo um cigarro, o galo canta. As três, as quatro, as cinco – o galo canta. Uns três, uns quatro, uns cinco cigarros – hoje comecei a cantar. Durmo em casa, o galo canta no meu ouvido. Acordo ébrio, o galo canta no meu ouvido. Não durmo, etc. Será um encanto? Já estou acordado! O galo canta e acorda o resto do mundo. Durmo só, o galo canta, durmo rápido, o galo canta, mal fecho os olhos de tão ébrio, o galo canta, me espanta, quando canto, o galo canta, disputamos, assim, o lírico canto, quem é mais homem: eu ou esta galinha?! Eu durmo pelos cantos, o galo continua a cantar. Procuro a ave nos cantos, nos quintais, trêmulo, andando sem nexo, nos sons, eu durmo e acordo, nas enciclopédias, um fantasma colorido – querem me internar – vidrado, amanhecido atrás da porra de um canto que nem um dia deixei de escutar! Cantando, cantando, cantando, cantando e cantando. E cantando. Durmo ébrio no rio, eu canto.

Tom R
Enviado por Tom R em 12/09/2013
Código do texto: T4478055
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.