O MONSENHOR E O PAPA

O MONSENHOR E O PAPA

Nesta hora em que todos nós estamos emocionados com o carisma e a humildade do Papa, as lembranças me assaltam e as comparações são inevitáveis...

Eu tinha dez anos e acabara de entrar para um colégio de freiras onde cursaria o ginásio. Como em todo colégio religioso, as orações estavam presentes nos intervalos das aulas e a confissão semanal era obrigatória.

Confissão! Momento terrível e amedrontador que fazia parte da minha rotina e assombrava meus sonhos.

Que terríveis pecados podia ter uma criança da minha idade a ponto de fazê-la ter pesadelos? Aos olhos de pessoas com um mínimo de discernimento, essa é uma pergunta sem resposta, mas para o implacável Monsenhor que escutava nossas confissões na capelinha do colégio, a resposta era fácil.

Sentávamos nos bancos da capela em total silêncio que mesmo que não fosse obrigatório estaria presente. O medo paralisava nossas atitudes e travava nossas línguas.

Para o Monsenhor, faltar à missa dominical no colégio era delito maior do que matar pai e mãe... e era o nosso pecado mais frequente. Depois de uma semana de aulas que começavam às sete da manhã, digam-me, em sã consciência, que criança iria à missa cedinho, de boa vontade? Não íamos e a condenação vinha em forma de gritos e expulsão das pecadoras confessas do local sagrado.

Saia da minha frente, pecadora! – esbravejava, num tom de voz que ressoava pelo recinto, o implacável Monsenhor que negava a absolvição para tão hediondo crime. Sua piedade, ao contrário do que pregou seu Mestre, era nula e sua vaidade exacerbadíssima. Afinal ele não era um padreco, era um “Monsenhor”, como frisava a cada vez que o chamávamos de padre.

Depois que saí do colégio de freiras, nunca mais me aproximei de um confessionário...

Se o Monsenhor fosse vivo, ao presenciar as atitudes do atual Papa, será que perceberia que a grandeza de um homem não está no título que ostenta antes do nome e sim no tamanho do amor que reparte com o próximo?

RJ, 28/07/13

(não aceito duetos, por favor)