Papai Noel existe?

Devido enfermidade da minha genitora, fui criado por meus tios na fazenda Yacina no município de Barra do Rocha-Ba e trago na minha mente fatos pitorescos e boas lembranças da infância.

Aos três anos tinha loucura para ver e conhecer os “homenzinhos” que falavam de dentro do rádio, perdia horas e horas esperando eles saírem para se alimentarem ou tomarem banho. Ainda tenho hoje registrado na minha mente a voz do ilustre Getulio Vargas nos seus diários e costumeiros discursos que iniciavam sempre assim: - Trabalhadores do Brasil!!

Dos Natais lembro-me que quando tinha quatro anos, por falta de opção, tempo e dinheiro meu estimado tio Chiquinho Abelar, após tia Ester ter rezingado com ele, à falta da minha lembrança de Natal, como saída estratégica deu-me uma vaca de presente, que devido seu jeito dengoso, dócil e amoroso batizei-a com o nome de ”Mansinha”. Hoje notando que o presente foi apenas de mentirinha, pois nunca obtive nenhum lucro com a sua produção nem tampouco com seus descendentes, pois vi nascer alguns filhotes. Mesmo assim, foi o melhor presente recebido até hoje. Recordo que na semana do meu aniversário “ela” deu cria a um lindo bezerro, vendo-o mamar, talvez por curiosidade ou ciúme, toda manhã às cinco horas me levantava, pegava meu canequinho enchia-o de água e lá ia, tentando chegar primeiro que meu rival, lavava suas tetas e ai me deliciava com aquele leite quentinho direto do “produtor ao consumidor”. Rs...

Aos cinco anos tive curiosidade em conhecer o bondoso Papai Noel. Após ter deixado meu tamanquinho aos pés da minha cama, a muito custo fiquei acordado para tentar vê-lo pois, muito queria agradecer ao tão bom e caridoso velhinho. Sem muito demorar, eis que adentra a porta um não tão velho, com dois presentes na mão. Para mim um boneco “mane gostoso” que subia e descia por uma armação de madeira e para meu irmão Bira ele deixou, também de madeira, um interessante brinquedo que era uma mula em cima de uma barrica, que quando apertávamos a parte inferior da base à mula mancava. Por mais de uma hora, sentado no chão frio, deliciei-me a luz do fifó tais brinquedos. Por ter gostado mais da “mula manca de Bira” astutamente efetuei a troca dos presentes. Ao amanhecer, sai o Birinha do quarto todo alegre e serelepe com o “mane gostoso”, coitadinho recebeu de imediato a reclamação por ele estar com o meu presente nas mãos. Sendo refeita a troca, logo depois ouvi minha tia Ester reclamar com o inocente “Papai Noel” por ter se enganado na colocação dos brinquedos.

Aos seis anos recebi pela comemoração do nascimento de Emmanuel o meu primeiro carro, era um cabo de vassoura atrelado entre duas latas de goiabada postas como se pneus fossem. Por muito tempo deixei de andar a pé, e se ia ao curral, barcaça, até tomar banho no Rio de Contas, seguia feliz da vida guiando o meu carrinho de mão. Aos sete anos ganhei um caminhão de “verdade” (também de madeira), onde passei a ser um grande transportador efetuando assaz viagens imaginárias à sede do município de Barra do Rocha- Ba. e algumas até para Salvador nossa querida capital.

Quanta saudade dessa época, tempo que eu era feliz e não sabia. Oh! Como seria bom se existissem muitos tios Chiquinho, Zezinho, Toninho e Pedrinho para alegrarem em todas as noites de Natal, mesmo com simples e humildes brinquedos como: “mane gostoso e mula manca” entre outros, no intuito de levar um grande sorriso e momentos venturosos a todas as crianças humildes e carentes do mundo inteiro.

Chynae
Enviado por Chynae em 05/04/2007
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