Tiro

Uma escuridão tenebrosa invadiu o corredor do hospital, barulhos de máquinas, passos leves, respirações difíceis, era tudo que podia se ouvir nesse lugar. John caminhava em meio a esse cenário, tez pálida, mãos tremulas olhos baixos e garganta seca. As mãos meladas de sangue, vez ou outra olhava para elas, deixava cair um par de lágrimas dispersas. Já passava da meia noite, mas ele não estava preocupado com a hora, nem com o fato de está completamente sujo e suado. Olhava para o filho deitado num banco, o coitado estava faminto, não tinha comido nada. Talvez o despertasse mais tarde, depois que tivesse certeza que não seria para dar-lhe uma má notícia. Acariciou levemente os seus cabelos, era o seu único consolo nesse momento difícil. Sentou-se no chão, levou as mãos espalmadas ao rosto, estava cansado, queria dormir, mas seu pensamento estava preso às cenas de outrora. Porque ele estava longe? Porque não atendeu o telefonema? Porque brigou com ela antes de sair? Sentia-se um traste, um ser terrível, o pior marido e pai do mundo. Sua mulher estava grávida, uma gravidez de alto risco, mas ele estava preocupado com sexo, amigos e bebida. Brigou com ela, estava cansado das suas cobranças desmedidas. Foi para a farra, bebeu muito, transou com prostitutas, dormiu fora. Não quis saber de nada, só queria se divertir. Ela passou mal, estava sozinha. Gabriel estava fora, na casa de um amigo, não haviam vizinhos por perto. Ela tentou ligar, mas não adiantou. Quando ele chegou, já a encontrou desmaiada, sangue por toda parte. Ficou louco, ligou para a ambulância, eles chegaram rápido. Repassou todas essas informações na sua mente atormentada pelo remorso. Era um criminoso, abandonou uma mulher vulnerável num lugar inóspito. Chorou, chorou de dor e agonia, sentia-se monstruoso. Um médico se aproximou, tocou-lhe no ombro. Sua face fechara-se, o que poderia ser?

“Ela está morta, mas a criança sobreviveu, mas está respirando com dificuldades”.

Ela morreu, foi o suficiente para ele. Deixou o filho em casa de amigos confiáveis, pegou o caminho da praia e atirou contra a própria cabeça. Não, ele não queimará no inferno, pois isso não passou de pesadelo e desejo. Ao contrário, carregou a filinha recém-nascida nos braços, beijou-lhe e prometeu-lhe amor, todo que ele não dera a sua mãe e mais um pouco.

Carol S Antunes
Enviado por Carol S Antunes em 15/06/2013
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