Zé da Onça

Eu vi, posso contar. No sítio malhada vermelha, na cidade de Caicó, havia muito tempo que o fazendeiro Zé da Onça (apelido dado em razão de uma fabulosa mentira contada por ele) fazia tudo o que lhe desse na cuca. Sem motivo algum, o poderoso fazendeiro mandava matar quem entrasse no seu raio de ação. Visitantes, desafetos, ciganos, mendigos, não importava, apareceu, morreu. Muitos foram os crimes cometidos por ele, mas que só irei relatar um tiquinho de nada dos seus horrores, em respeito a quem por acaso estiver lendo este relato. Era um homem rico, de grande fortuna. Tinha por costume se apossar do alheio. Hábito adquido do seu pai. A sede da fazenda era enorme, mais parecia um castelo medieval e era lá o palco central de suas maldades. A casa da fazenda era dividida em muitos compartimentos. A família era numerosa. Bom demais! Havia muitos jagunços lá, homens de feição brutal e atos descomunais. Não cangaceiros, diga-se de passagem.

Ao lado do “castelo” existia um sobrado no qual somente ele tinha acesso, era aqui que tudo acontecia. Aos seus arredores somente as casas dos jagunços que lhe davam proteção. Ninguém conseguia chegar à sede ou ao sobrado da fazenda sem que fosse interpelado pelos brutamontes.

Os anos se passaram e o criminoso ficou sozinho. A família foi diminuindo, ninguém mais ia visitá-lo e nas terras deste monstro ninguém se atrevia entrar para caçar, até os jagunços começaram a desaparecer, em pouco tempo não existiam mais.

Triste, abatido e sozinho neste mundo de meu Deus, ele resolveu parar com aquilo tudo. Pegou seu revólver e foi ao sobrado. Não suportando mais ver a sua paixão, que por tanto tempo havia se dedicado, ficar tantos dias sem ter o que comer, aproximou-se e tirou a própria vida, caindo de bruços dentro do tanque dágua, onde foi servida a última refeição da sua criação de piranhas.