Ataque Surpresa

Rayssa, isso ficou um pouco atraente...

Ela me encontrou no corredor... Lá pelo segundo andar. Me convidou para beber algo mais tarde, dançar... Ele iria. Gosto da companhia deles. às vezes acho que mais do que qualquer outra coisa. Faz parecer o que eu quero sempre. Gosto do modo como essa companhia me parece certo. Não está longe. Encontrei com eles e fomos onde sempre nos encontramos. Nós dois, amargurando a festa, e ele nos enturmando. Não seria exatamente essa a palavra. "Enturmando"... Ele se enturma. Nos pagamos algumas bebidas. Gritamos. Dançamos. Parece que é isso que gosto. Se torna normal. Pouco tempo atrás seria mágica, eu diria. Precisamos de ajuda. Por que parece algo que deve significar assim? Algumas horas tive uma conversa sobre como parecer normal. Uma fraude, eu disse. Uma fraude. Não me pareceu algo que seria verdade, mas acho que só ela pode compreender o que significa. Acho que ela sente a mesma coisa. Parece... Olho nos olhos dela, no modo como ela age, que só ela pode compreender o que realmente possa ser. Essa conversa se prolonga. Eu digo: Mãe, o que pode ser? - Ela diz que devo seguir o caminho da verdade. Algo que se encaixe em algo que já tentei ser. Vivo da mesma forma que costumava viver há dois anos. Ela não estava lá. Algo se perdeu completamente nesses dois anos. Alguém entrou no meio e cortou algum tipo de linha. Algo que me prendia em alguma história quase encontrada. Algumas coisas foram compreendidas, mas... Olha novamente ele entrando na minha vida. Acho que sinto falta dele. Ele novamente está sendo representado de alguma forma que eu o tenha inventado.

Saímos antes que pudesse acabar a festa. Tudo parece divertido. Ela não está se divertindo, porque eu sei que algo parece errado. Acho que compreendo a forma como essa coisa é construída. Só não sei como ela começa. Não consigo encontrar um nome que a possa encaixar certamente. Ela apenas começa. E eu vou gritar que quero parecer normal. Que não há problemas nessa adolescência. Ela virá novamente, a coisa, e ninguém acreditará que ela existe. Sou apenas um adolescente problemático.

Nós pagamos a conta. Não consigo mais beber. Entramos no carro. Não podemos comer mais nada também. Antes eu iria para a casa dela, mas agora eu fico no meio do caminho. Gosto do modo como eles se amam, porque entra em tudo o que eu decido que seja meu. Novamente existe uma decisão. Eles se amam. Gosto do modo como eles se amam. Gosto do modo como ela o ama. Gostaria de amar alguém assim. Eu sei que existe problemas, e... Normal. Todos nós temos problemas. Somos pessoas diferentes uma das outras.

Fomos a outro lugar. Parece ser o lugar mais alto do mundo. Fomos até o fim da grama. Lá nós rimos. Somos muito amigos. Eu começo a falar dos meus problemas. Ele sai de perto, mas antes dá sua opinião. Agora parece algo que só ela pode resolver. Ele se levanta e volta para o carro. Estou de cabeça baixa e ela fala... Fala tudo o que deve ser dito. Já ouvi sobre isso dezenas de vezes. Só dela. Só ela pode dizer tudo o que diz. Ela tem o ataque surpresa que se precisa ter para dizer o que diz. Nós gritamos para toda a imensidão. É longe, e o grito vai. Esse grito vai tão distante que ninguém pode encontrá-lo. Essa é a nossa verdade. Então voltamos para o carro. Sorrindo... Divertidos.

Fico no meio do caminho. Ela continua com ele. Somos felizes agora. Eu pego o ônibus antes de amanhecer. Entro. Sento e fecho os olhos, abro quando estou perto de casa. Subo até o último andar. Me sento na sacada. Acendo o último cigarro antes de dormir. Começa a aparecer um rasgado laranja no céu. Em alguns minutos começa aparecer as cores que compõem aquele infinito lá longe. Ela sempre me deixa confortável. Começo pensar novamente sobre o que eu deveria ser. Algo parece errado, porque sempre deve parecer.

Enquanto ainda existe o cigarro, o sol toca minha pele.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 12/02/2013
Reeditado em 12/02/2013
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