TODO MUNDO TEM PROBLEMAS

Este é o segundo texto da série "Todo mundo tem...". O primeiro: "Todo mundo tem segredos" e o terceiro: "Todo mundo tem fraquezas" encontram-se disponíveis para leitura aqui, no Recanto. Obrigado e boas leituras.

Havia feito um cronograma de atividades: saindo do emprego na sexta, pegaria estrada em direção ao mar. Estava com ingressos para o show de reggae e sabia que, na companhia dos amigos, iria se divertir muito. No dia trinta, o compromisso era espiritual. Participaria de um congresso das Testemunhas de Jeová. Gostava da mensagem que eles transmitiam, do carinho que tinham e do respeito que demonstravam. Estava paradoxalmente vivendo entre os mundos físico e espiritual e neles procurava a felicidade que acreditava ter direito. Facilmente, as mulheres se achegavam. Bebia pouco e raramente fumava. Praticava, quando sobrava tempo, artes marciais e musculação, embora não gostasse de violência ou sequer sonhasse em ter um corpo super desenvolvido. Aliás, era bem magro, mas cheio de autoestima. No réveillon foi à casa de campo que possuía na companhia de uma garota especial. Acreditava que só merecia o melhor. Afinal, era do bem. Já tinha feito muitas coisas boas e vivido situações e dias muito melhores do que os atuais. Continuaria sendo quem sempre foi: temente a DEUS e aproveitador da vida, mas ao voltar para sua casa e ao encontrá-la vazia, chorou, lembrando-se dos filhos e da ex-mulher, que além de traí-lo, foi contemplada pela justiça com a guarda dos filhos. Lembrou-se do caçula, que tinha o mesmo nome que o seu e da filhinha, que todo dia o acordava com um beijo antes de ir à escola. Lembrou-se também da coleção de canivetes que possuía. Dirigiu-se a ela, tomando a mão um de aço negro que havia sido presenteado pela sua ex-companheira. Com a destra levou-o ao pescoço, logo abaixo da orelha esquerda. Com rapidez e precisão a jugular partiu-se, e junto com ela a vida daquele que muitos e até ele próprio por vezes acreditava ser feliz.