Falando sobre o ciúme

Como estou virando quase um escritor, só não sou porque o quase não deixa, resolvi abordar um assunto me incomodou muito e por longo tempo. Vou falar do ciúme. O ciúme pode externar-se por várias formas: Ódio, vingança, humilhação, vergonha, etc. Até hoje, por mais estudo que se fizeram, ninguém conseguiu decifrar esse fenômeno.

Só sei dizer que o ciumento (a) vive sempre desconfiado(a). Não pode ver ninguém olhando para o seu lado que ele(a) pensa que está falando dele(a). O(a) infeliz está sempre sofrendo. Nunca tem paz.

É uma doença terrível! Os(as) ciumentos(as) estão constantemente com a pulga atrás da orelha, imaginado algo inexistente. Eu sofri desse mal longos anos. Fui processado por causa disso.

Vou contar com detalhe o que foi que aconteceu: Trabalhava de pedreiro na área de furnas, em Cachoeira paulista. Eu estava fazendo uma tubulação, isto é, emendando os tubos e intercalando com massa de cimento. E de cima um rapaz me diz: “Wilson, lá em Itanhandu tem zona”? Eu respondi que não. Escutei que um cara falou baixinho:” Tem sim, a mulher dele fica na zona enquanto vem trabalhar. Só que o idiota se esqueceu que pelo os tubos eu escutei toda conversa. Uma tubulação é com como telefone; você escuta a conversa de longe. Não deu outra, subi furiosos com a marreta na mão. Dei-lhe uma marretada na testa do cara que foi só melado que voou! E sumi pelo meio do mato. Consegui escapar do fragrante. Fui processado, porém fui absolvido. O juiz entendeu que agi por forte emoção e para defender a honra da família. Confesso que me arrependi. Não precisava aquela violência toda. Era só eu dar um esculacho nele e pronto. Mas chorar o leite derramado não adianta. O que foi feito não volta mais.

Voltando o assunto:

Agora eu pergunto: De que adianta ter ciúme! Se a pessoa que você ama é dono do corpo dele(a), ele(a) faz do seu próprio corpo o que bem entender! Quanto mais você azucrina a pessoa amada com o seu ciúme, mais ela se sente por cima da carne seca e, passa lhe humilhar; a zombar dos seus sentimentos.

De que adianta eu ter ciúme se não posso vigiar quem amo vinte e quatro horas por dia! Você já pensou nisso? O meu ciúme vai fazer com que a pessoa amada se sinta irritada e acabe me traindo até por pirraça.

São Paulo escreveu na sua epístola aos corintos, definindo o amor. E tem um trecho que ele diz: “o amor não tem ciúme, não tem inveja, não tem disputa... Quem ama, ama simplesmente como se ama um sorriso de uma criança! O amor é puro como a água cristalina!

Esse negócio de dizer que, quem ama não trai; é mera ilusão. O homem ama sua esposa e, se tiver oportunidade, dá uma biscateada por fora. Só que o homem trai, como se estivesse tomando um copo de cerveja, chupando uma bala, coisas assim! Com a mulher é diferente. Há mulheres que traem o marido por dinheiro com intenção de ajudá-lo. Outras traem porque enjoou do marido. Outras traem por se sentirem mal amadas; sentem necessidade de sexo. A maioria das traições femininas, são cometidas por envolvimento amoroso. A mulher se apaixona por outrem.

Existe um ditado que diz: São três coisas que o homem não consegue segurar: “ fogo de baixo para cima, água de cima para baixo e mulher quando quer pular cerca”.

Os nordestinos são cruéis ao criticarem um traído. Eles dizem que todo castigo pra corno é pouco! Existem vários tipos de cornos: Há aquele que quando descobre mata a mulher e o Ricardão sem piedade. Esse é pior do que um idiota. Vai preso, ou não vai, porque hoje em dia matar não dá mais cadeia; mas fica com o remorso para o resto da vida. Há outro tipo de corno que, quando descobre, vai tirar satisfação com o amante perguntando se é mesmo verdade. Se o Ricardão negar; dizer que só tem amizade, ele passa acreditar e briga com quem comenta.

E há também aquele corno que, ao descobrir, chora desesperadamente implorando para ela não fazer mais isso. E há outro tipo de corno que sabe mas não liga. Usou, lavou, tá novo! E deixa comentar. Com a língua do povo ninguém pode mesmo! “O negócio que nem borracha, estica mas não racha”. Já ouvi muita gente falar assim. Esse é o mais feliz de todos. Enquanto os fofoqueiros queimam a língua, ele está bem tranquilo e feliz comendo o filé junto com os amigos. Eu tinha um amigo que separou da esposa, uma sra. muito honesta, e foi morar com uma piranha bem mais nova do que ele. Quando alguém lhe perguntava por que tomou tal atitude errônea, ele respondia com essa frase:” prefiro comer filé junto do que carne de pescoço sozinho”!

Eu tenho a minha opinião formada: sou casado há 39 anos, minha esposa nunca deu motivo para eu desconfiar dela, mas se por uma infelicidade isso viesse acontecer, dela me trair e eu descobrir, é claro; pediria desculpa para ela por eu não conseguir fazê-la feliz, ia dar parabéns ao Ricardão e lhe desejava boa sorte.

Isso eu penso agora que estou maduro, experiente; mas se isso acontecesse tempos atrás, sinceramente eu não saberia lidar com esse tipo de situação. Só sei dizer que na minha juventude, fui noivo e, a minha noiva me traiu com o seu próprio patrão. Fiquei tão transtornado que não comia e nem comia direito, pensando seriamente em me vingar.

Pedi demissão da firma e comprei uma bereta semi-automática, bereta para não conhece, é uma mausa, (pistola pequena).calibre 22 e andava com o pente cheio de bala. Eram dois pentes: cada um continha 7 projéteis e mais uma na agulha. Num total de quinze tiros simultâneos. Ao descarregar um pente, era só enfiar outro em seguida.

Eu ia no mato e levava latinha de massa de tomate, pendurava no fio de arame e na distância de dez passos, acertava quase todas. Estava bastante treinado. toda semana eu treinava.

Emagreci 12 quilos. Eu que já era magro, virei palito! De tanto a minha mãe rezar, eu tirei aquela ideia da cabeça e acompanhei um circo para esquecê-la. Troquei a arma por um rádio que não valia quase nada. Tomei um prejuízo enorme, mas me livrei daquela porcaria que só servia para me tornar um fora da lei. Naquele tempo, embora fosse época da ditadura, era fácil comprar arma e minução.

Trabalhei no circo Hermanos stankowich aproximadamente 2 anos. No início armava, desarmava, pegava bilhete na portaria; vendia algodão doce, amendoim, pipoca etc. Depois perceberam que eu levava jeito para palhaço; me instruiram e dei o primeiro show na cidade de Paranapiacaba, num matinê. Consegui agradar e fui muito aplaudido.

Depois comecei a fazer show à noite e, sempre conseguia agradar a plateia.

Passei muitos momentos felizes. O salário não era grande coisa, mas me divertia muito! Toda cidade que ficávamos, eu arrumava uma paquera. Aquilo fez com que eu fosse tirando aquela ingrata da cabeça.

A saudade da família apertava, mas, eu não queria visitá-los temendo encontrar com aquela ingrata e ter uma recaída.

Quando tive um folga fui passear na casa do meu tio em São Paulo. Ele me contou que, ouviram uma notícia na globo, no jornal nacional, que, Wilson José de Morais, da cidade de Guararema, tinha sido morto pelo esquadrão da morte com 33 tiros. Era uma pessoa de boa índole, mas havia se transformado num bandido em virtude de uma traição.

O nome da vítima era realmente idêntico ao meu, mas a cidade era uma cidade do Rio de Janeiro, Saquarema. Como em casa de minha mãe não tinha televisão, os oportunistas aproveitaram para molestar minha família com as suas maldades mesquinhas.

Meu tio disse-me que minha mãe estava desesperada e chorava todo dia sem conformar com a situação. Com aquela notícia, quem não se conformou foi eu. Peguei o primeiro ônibus e fui direto para Guararema. De longe minha mãe me avistou eu veio correndo me abraçar fortemente. Chorou de tanta felicidade e me pediu para nunca mais deixá-la.

Deixei roupa e um resto do pagamento no circo e fui trabalhar no pesado novamente.

Trabalhei em forma de eucalipto, na fazenda Merendá das indústrias do Papel simão.

Logo conheci a Nilza, antes tinha namorado várias delas, mas não me interessei por nenhuma. Parecia que o meu coração não se adaptava mais com amor. Estava muito calejado. Com a Nilza foi diferente. Ela me contou a mesma história. Foi noiva e seu noivo a traía. Encontrei nela grande firmeza e sinceridade. Namoramos apenas 7 meses e casamos. No início parecia mais uma amizade. Logo o amor foi aumentando. Portanto, como eu tinha levado o chifre com a Deonata, gato escaldado tem medo de água fria, eu morria da ciúme da Nilza. E os colegas sabendo disso, aproveitavam para tirar sarro da minha cara. Faziam piadinhas, jogava indiretas, coisas assim. Certo dia, um servente me chamou de corno manso, conversa de pião que brinca com os colegas dessa maneira; se eu o alcançasse, seria mais um processo. Corri atrás dele com uma pá. Até que me acalmaram e mandaram o cara pedir desculpa. Eu fiz ele jurar que não sabia nada de anormalidade sobre a minha mulher.

Ah, ia me esquecendo de contar essa. Certo dia, estávamos jogando bilhar e, um gozador vem me diz: “ você casou com mineira, e mineira é louco pra dar, você vai fazer o quê”? Meti-lhe o taco na cabeça. Dessa vez ninguém chamou a polícia. Senão era outro processo que eu ia levar.

Lembro-me também que trabalhava com um empreiteiro muito bom e, dizia por eu ser melhor do que os outros me pagava mais. Eu não me considerava melhor. Era ele que dizia isso. Modéstia à parte, sempre fui caprichoso. Tudo o que faço, procuro fazer bem feito. Para os outros não perceberem e ficassem querendo ganhar igual, ele não me fazia o pagamento perto deles. Foi duas vezes levar o dinheiro em casa. Como eu não estava, entregou o dinheiro para a Nilza. Foi o bastante para eu deixar o emprego. E o pior que o cara era mesmo muito avançado. Não podia ver mulher bonita que dava em cima. Cantou a mulher de um baiano, ela contou ao marido, o nordestino matou-o a paulada.

Quanta cagada eu fiz por causa de ser ciumento. Ainda bem que a Nilza nunca foi de conversar com homem nenhum. Ela é de pouca conversa e não gosta de brincadeira. Ela é muito recatada, não gosta de piada; de falar besteria; de usar roupa curta; de pintura etc.

Eu tinha ciúme até de um concunhado. O cara era boa pinta e de vez em quando vinha em minha casa junto com a esposa. Hoje tenho vergonha da minha idiotice.

Quando casamos ela tinha 22 anos, e acredite quem quiser, ela era virgem. Ainda bem que me casei com uma quase santa. Caso contrário, estaria perdido.

Hoje dou conselho para quem é ciumento. Seja forte e lute contra esse sentimento ridículo. Você serve de chacota para os outros. As pessoas percebendo que você é ciumento, irão te importunar para você brigar com o seu amor. Gente maldosa não falta. Querem é te ver no lixo sem ninguém . Não entra, não. Ouça o conselho de alguém que já sofreu muito!