ESTRATÉGIA DE UM NAMORADO MÍOPE

Alexandre era um sujeito boa praça, bem humorado, sempre alegre, de boa saúde, exceto no que diz respeito à visão. Era míope em alto grau e usava óculos fundo de garrafa.

Por estas coisas que o destino apronta e ninguém pode explicar, eis que Alex conheceu uma moça bonita, esbelta, elegante e... Míope, quase tanto como ele. Célia não era ninguém sem seus óculos.

O tempo foi passando e o namoro foi ficando cada vez mais sério a ponto de Alex se achar na obrigação de conversar com o pai da noiva e explicar que tinha boas intenções, nem que as intenções não fossem tão boas assim.

Marcaram num sábado para que Alex fosse cumprir com o ritual. Um dia antes, na sexta-feira, apreensiva, Célia comentou com Alex que a parada não seria fácil e que seu pai tinha uma grande restrição ao namoro dos dois. Alex ficou preocupado. Afinal era moço de boa família, correto, honesto e com o nome limpo no SPC, no Serasa e outros órgãos afins.

- Sabe o que é, querido. Papai acha que nós não combinamos por que temos problemas de miopia e na opinião dele nossos filhos herdarão nossa deficiência.

- Se é este o problema, não se preocupe. Irei convencê-lo de que não enxergo tão mal assim.

Célia morava numa pequena chácara. Havia vacas, cabritos, ovelhas e galinhas soltas pela propriedade. Algumas árvores faziam sombra entre a porta da casa e a porteira da chácara, distante uns 80 metros uma da outra.

Alexandre, como bom brasileiro, começou a imaginar uma forma de convencer o futuro sogro de que sua miopia não iria interferir no futuro de seus netos. Pensou... Pensou e teve uma ideia. Colocou um alfinete numa das árvores a uma média distância da área onde costumava se sentar o promitente sogro.

No sábado lá se foi Alex cumprir a missão; pedir a mão de Célia e convencer o sogro que não era tão míope como se imaginava.

Sentados na área, ambos conversavam sobre assuntos da mais alta importância, tais como a novela das nove, o Big Brother Brasil e o campeonato de truco do bairro. Foi quando chegou-se ao assunto que preocupava Alex, ou melhor, que preocupava o futuro sogro de Alex, pois ele já havia arrumado a solução para o problema da visão com o estratagema do alfinete fincado no tronco da árvore.

- Sabe, seu Manoel, estes óculos eu utilizo mais por precaução, pois minha vista não é tão ruim assim. Veja o senhor que daqui eu estou enxergando um alfinete fincado no tronco daquela gabirobeira.

- Não acredito. Tem um alfinete enterrado no tronco? E tu consegues enxergar?

- Sim senhor. Vou lá apanhar o alfinete para lhe mostrar.

Seguro de si e orgulhoso de sua estratégia, Alex levantou-se, desceu os degraus e com passo firme dirigiu-se para apanhar o alfinete e demonstrar como enxergava bem.

Infelizmente, não conseguiu. Tropeçou num bode que ruminava ao pé da escada e que ele não viu, esparramando-se pelo chão.

Célia continua solteira e a espera de um noivo, de preferência que não use óculos.

Coisas do destino.