OS IRMÃOS



Quando Carlos chegou à casa do seu irmão para visitá-lo o mesmo estava sentado na frente da residência numa cadeira de balanço e nem ao menos se levantou para falar com o visitante o qual não o via há uns três anos, comportou-se respondendo apenas sim ou não sem mais nenhum acréscimo às tentativas do parente que se esforçava para emplacar alguma conversa possível de amortecer o mal-estar que já o consumia mediante aquela tão esquisita reação do sangue do seu sangue que até mesmo evitava olhar-lhe cara a cara. E foi a cunhada que apareceu logo em seguida e tentou amenizar a situação da cena um tanto fora do comum e convidou o recém chegado para conhecer as recentes modificações que tinham ocorrido nos cômodos da casa, algo que não durou muito, pois o ofendido não se mostrava tão disposto a se entregar aquelas tentativas banais de afogar a verdade estampada no rosto do esquisito irmão sentado lá fora na cadeira de onde não se movera – é bem verdade que não eram dos mais cúmplices amigos de confidências e tudo o mais, mas, até aquele dia se respeitavam como sendo da mesma família num tratamento normal, nunca haviam tido quaisquer desavenças tão brusca quanto aquela -, assim, o constrangido visitante em meio aos poucos minutos que havia chegado naquela visita surpresa resolveu se retirar do meio dos seus parentes mais surpreso do que a surpresa que pretendia fazer e num simples e abafado adeus despediu-se, afogado por algum sentimento ainda inexplicável. Talvez seus olhos quisessem chorar as piores lágrimas, mas talvez o dono das lágrimas não quisesse derramar lágrima alguma por achar que não valia a pena chorar por quem não merece o pranto, mas as passadas seguintes pareciam que pisavam em seu próprio coração machucando-o ainda mais. E era evidente que os motivos que levaram o irmão a adotar aquela atitude não estavam claros e talvez quisesse saber de modo aprofundado sobre a mágoa plantada no peito do outro, afinal quais os motivos levaria alguém a agir de tal modo, senão submetido a ressentimentos terríveis? Mas não voltaria lá para perguntar os porquês do insulto silencioso, não iria lá para gritar, preferiu seguir adiante, quase convicto de que um vínculo familiar havia se quebrado por definitivo naquele dia. E ainda pensou em como o irmão era uma pessoa rancorosa e cheia das pequenezas desnecessárias que se acopla na mente duma pessoa que só busca olhar o lado negativo das relações; dessas pessoas que adoram cobrar e quase nunca ofertar. Quem sabe fosse essa a certeza que o fez ir embora carregando aquela dor no peito decido a não mais voltar a procurá-lo por achar que se o irmão não o valorizava e não fazia questão de pelo menos conversar – pois entendia que um homem civilizado, deveria utilizar-se dos instrumentos dessa civilização para por os pingos nos is -, porém, já que o mesmo não atingiu um nível intelectual que o fizesse entender que o diálogo resolve mais as questões do que o silêncio e se também os raros discursos que o mesmo ouvira do padre não foram capazes de conscientizá-lo de que é dever do homem amar, respeitar e perdoar ao próximo, então que ficasse para trás com suas mesquinhas visões de mundo, porque não iria ficar se remoendo pela desconexão ocorrida com um membro da família revestido de verdades as quais se recusava reavaliá-las. E assim, a noite invadia o dia e Carlos cambaleava pela rua em meio a inúmeros pensamentos...



Por: Valdon Nez
30 agosto 2012

 
Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 30/08/2012
Reeditado em 30/08/2012
Código do texto: T3856409
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