PAPO SINISTRO

Sexta-feira, fim de expediente, cansaço e vontade louca de queimar todos aqueles papéis sobre a mesa e dar um chute no computador. Toca o telefone.

- Alô, boa noite senhora. Sou de uma administradora de seguros e ligo para oferecer um plano assistencial, com auxílio funeral com direito, inclusive, à cremação.

Tento interromper em vão.

- A senhora terá uma cobertura total em caso de acidente, com direito a isso, aquilo, piriri, pororó...

Quinze minutos se passam e minha educação não me deixa desligar.

- Inclusive a senhora terá direito a receber um seguro estimado em trinta mil reais e não precisará se preocupar com mais nada!

Fui obrigada a me pronunciar dessa vez:

- Mas é claro que não vou me preocupar, já estarei morta!

Pausa. Ela ignora a observação e continua dizendo que no decorrer do seguro, concorreria a vários prêmios, coisa e tal. Tento convencê-la do meu desinteresse, dizendo que não gostaria de morrer agora e que isso é um plano para mais tarde e além do mais nunca havia sido premiada em nada mesmo e não seria agora que alguém lá em cima ia dar uma forcinha. Depois dessa ela desligou.

Papo sinistro. Por via das dúvidas não viajarei nesse final de semana. Pode ser aviso.

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 09/02/2007
Código do texto: T375155