Dois temas na conversa de Adejante e Manezim

Certa vez Manezim, em conversa com Adejante disse que Hitler foi um dos maiores mentirosos e assassinos da história, e Adejante se virou pra ele bem tranquilo e lhe disse: - fala uma novidade aí poeta!. Pois é, mas é desse jeito que um puxa conversa e o outro continua. Depois de alguns instantes e um bicada, o barbudo Adejante pergunta se ele sabia que Hitler era meio analfabeto. Foi aí que a conversa tomou outro tom quando o poeta Manezim disse já querendo se irritat, que não podia acreditar que um sujeito como aquele, um dos maiores líderes do mundo tenha sido analfabeto...

- Eu falei meio analfabeto! pois é, já vi que isso é novidade pra você. Rebate no mesmo tom o tranquilo Adejante das estradas.

E diz que existiu um certo general Chausewitz que escreveu um grande trabalho sobre a guerra e que esse tal livro esteve aberto na mesa de Hitler mas, por ele ser mesmo meio burro, se leu não entendeu pois, se tivesse entendido não teria caído no mesmo erro de Napoleão... - e o erro de Bonaparte você sabe não é? E se cala enquanto o outro fica murmurando um é, sei, é... mas ninguém sabe se Manezim sabe mesmo ou se está simplesmente fingindo que sabe. Quando Adejante o trata com essas interrogativas é por não se achar disposto a muito blá blá blá, e o poeta mamute fica naquele mastigado, sem jeito para continuar a mesma conversa. O silencio reina, entre os dois enquanto cada um deve estar pensando no que dizer depois.

Aconteceu que nesse mesmo dia no bar centra, se deu o caso polêmico dos peixes. É, foi o curioso caso dos peixes de nuvens. A conversa teve inicio, porque apareceu por aqui um biólogo da capital perguntando aos mais velhos moradores da região, se já tinham ouvido falar dos peixes de nuvens. A resposta da maioria foi que sim, que esse peixe aparecia nas lagoas e barreiros das várzeas nas grandes chuvas de inverno no começo do ano. O curioso era que as lagoas estavam no barro, sem uma gota de água há meses e estas não tinham ligação nenhuma com os riachos e córregos, mas quando chovia apareciam misteriosamente os tais peixes nadando nelas. Como o caso era confirmado por pessoas idosas, os mais novos não se achavam no direito de duvidar, e como ninguém tinha conhecimento dessaárea da biologia achavam que os peixes vinham mesmo das nuvens e o caso era dado por encerrado.

Porque o pesquisador queria estudar alguns desses estranhos peixes, indicaram a ele, um morador de uma localidade próxima daqui, pescador de profissão que, poderia capturar os peixes quando desse uma boa chuva por lá. Depois que o biólogo se foi aí a conversa continuou no tom do peixe tido por aéreo. O Adejante não era muito de fazer perguntas, preferia responder às que lhe faziam, mas dessa vez resolveu inquirir ao poeta que se achava calado, se este achava também que os peixes vinham das nuvens. O sujeito disse que nunca tinha visto tal bicho e que se os mais velhos diziam que o peixe era das nuvens não era ele que ia dizer que não. E continuava sua eloquencia de repetitivo, ora, se ele nem tinha visto o tal peixe ainda, não era nem parente de São Tomé, por isso não ia duvidar de nada nem de seu ninguém! Nisso o Adejante resolve jogar a pergunta na direção de outros que estavam nas outras mesa e ninguém soube dizer nada mais e ninguém quis dizer que duvidava do que diziam os mais velhos. Ele porém, fez uma outra pergunta que intrigou mais ainda o caso: - “mas todo mundo aqui já se molhou na chuva, não já"? E ficou olhando bem nos olhos dos presentes e se rindo com aquele sua barba de Papai Noel, continuou depois: - "e quando foi que alguém viu um peixe cair na cabeça de quem está tomando banho de chuva? Ou quando foi que alguém encontrou um peixe vivo pulando em cima de um telhado depois de um temporal?” Isso chamou a minha atenção e a de todos, é tanto que houve um silencio geral pra ele completar: o negócio é o seguinte: não tem peixe de nuvem nada, tem o peixe dos barreiros que depois que a lagoa seca, ele deixa as ovas, em seguida morre, então quando volta a chover de novo os peixes nascem das ovas que ficaram no barro esperando até por mais de um ano para nascer. Mas os matutos que nem eu, não sabem disso e eu só sei porque me disseram, não sou nem cientista! A risada foi geral.

O Adejante é assim, rápido, claro e direto, com ele não há evasivas, os seus casos de viajante são novidades pra os moradores daqui e ele é querido pela maioria dos freqüentadores do bar. Estes aos poucos vão conhecendo suas idéias e ditos. Mas nesses momentos o poeta Manezim parece que se sente perdendo terreno, demonstra não gostar por ter ficado no meio da ralé, sem uma resposta melhor, e logo ele o homem que mais tem leitura e que mais tem livros na cidade, se encontrar no meio daquele bando de cachaceiros analfabetos! É uma vergonha, ora sebo! Não gosta, demonstra contrariedade, saiu perdendo mais uma vez pro barbudo pau d’agua! Cacete!