Fugas
Acabei a leitura. Pronto, já estava mais calma. Tinha chorado muito e o livro me servira de fuga.
O que fazer agora? Não, não quero sair do quarto. Não quero ouvir música. Não quero comer.
Só quero esquecer da vida, do choro, da dor e da culpa.
Só quero esquecer de mim.
Então começo desenhar. Desenho uma mulher e ela vira história. Ela é bonita, de cabelos longos e loiros, e ela não chora agora que encontrou o grande amor. Ela fica triste, às vezes, e ela reclama porque ele é relapso, e faz coisas que todo homem faz e que deixam as mulheres muito, muito irritadas. Mas depois ele pede desculpas e eles se beijam. Tudo foi esquecido.
Desenhar também se tornou fuga. Enquanto desenho vou tecendo outros mundos e esqueço do meu mundo. Vou tecendo histórias de lindas mulheres e suas lindas vidas.
Mas eu canso de desenhar. Eu não quero mais histórias, nem livros, nem fugas. Eu não quero mundos de outras mulheres. Eu não quero contos de outras mulheres.
Eu queria não ter que desejar esquecer.