BEM VESTIDO

BEM VESTIDO!

A história que vou contar é verídica! Aconteceu em Santo André, e como os personagens são bem conhecidos, não citarei seus nomes, apenas os apelidos. Bobagem, todo mundo saberá quem são! Como não há ofensa a quem quer que seja, não vejo qualquer obstáculo em contar o caso.

Ligão, Campana e Patola! Os dois últimos, irmãos! Esses os personagens. Ligão sempre foi o mais famoso. Desde moço trabalhou em loja de tecidos, onde adquiriu o dom de desenhar modelos de roupas femininas! Durante muitos anos, nos carnavais, era ele quem modelava as fantasias dos componentes do rancho do Panelinha, inclusive levando este a conquistar, por diversas vezes, o prêmio de melhor desfile. Solteirão convicto, já com idade bem mais avantajada do que os outros dois, vivia enrabichado com alguma mulher. Teve diversas. Nada oficial. Mais tarde, através de vários negócios, lícitos é bom que se diga, conseguiu amealhar certa fortuna, tornando-se empresário de ônibus. Mas, a vida desregrada, a boemia, o levou a perder tudo, com mulheres, jogatina, bebida, e talvez outros vícios mais.

Campana, o mais novo dos irmãos, não sei contar com maiores detalhes, num passeio em Assunção, no Paraguai, conheceu uma moça, ficando sabendo, depois, tratar-se da filha de um ministro, membro da ditadura de Alfredo Ströessner. Namorou, casou-se e viveu determinado tempo no citado país, até a queda do governo, no golpe de estado que derrubou o velho general. Depois, voltou para o Brasil com a esposa, que, com o correr do tempo, contraindo determinada grave doença, veio a falecer. O casal teve, ao que parece, dois filhos.

O Patola, logo que começou a lutar pela vida, em sociedade com outros amigos da cidade, adquiriu uma pequena indústria química. O negócio cresceu de tal forma, que acabou se transferindo para o interior, Mogi Mirim, se não me engano. De tal forma, repito, que uma multinacional da área de petróleo acabou comprando parte da empresa, tornando-se majoritária.

Conhecidos os personagens, a história se desenvolveu da seguinte maneira. O Ligão, com sua vida irregular, já em fase descendente, economicamente falando, morava sozinho num pequeno apartamento, no centro de Santo André, arredores da Catedral do Carmo.

Com a morte da mulher, o Campana, cujos filhos não moravam com ele, tendo grande amizade com o Ligão, sem ter onde morar, veio residir no apartamento junto com o amigo.

Em determinada ocasião, convidado para um casamento em São Paulo, o Campana necessitava de uma roupa mais chique, pois se tratava de cerimônia de gente socialmente bem postada, exigindo traje adequado. Recorreu ao irmão Patola, sabendo que este possuía roupas de padrão elevado. Os dois se equiparavam em tamanho, de modo que o assunto foi resolvido facilmente. O terno, na realidade, era de alta qualidade, casimira inglesa, confecção de estilista italiano famoso.

A roupa foi usada, e nunca mais devolvida! Nada de se estranhar, pois o Campana agiu da mesma forma comigo, quando, em determinada ocasião, há muitos anos, emprestei-lhe um “smoking”. Jamais me devolveu!

Passado algum tempo, veio a notícia do falecimento do Ligão. O velório estava sendo realizado no Cemitério da Vila Pires, em Santo André. Conhecido como era, o local permaneceu sempre lotado, com os amigos prestando a última homenagem a um velho companheiro de tantas e tantas jornadas.

Em certo momento, eis que chegam os irmãos, ambos cumprimentando todos os amigos ali presentes. E, o Patola, ao se virar para o caixão aberto, vendo o amigo ali prostrado, não se conteve:

- É o meu terno!!! Gritou, olhando para o Campana.

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 27/03/2012
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