DOIS MALTRAPILHOS NO SHOPPING

Fazia um frio de espantar pingüim em Balneário Camboriu. Era lá pelos idos de 1995.

Saímos da casa do meu amigo Amur já meio tarde da noite. Aquele frio intenso mais o sono que me invadia, impulsionavam o meu pé no acelerador do carro.

Na 3ª Avenida, então revestida de blocos de concreto, um inimigo traiçoeiro esperava-me sorrateiramente: uma lombada! Provavelmente ela vinha em meu encontro em alta velocidade, pois eu não a vi. A batida na parte inferior do carro rasgou o cárter.

Quando cheguei em casa e estacionei o veículo formou-se uma poça de óleo na garagem.

Na manhã seguinte levei o carro em um mecânico para consertá-lo. O Amur, como um bom amigo, me acompanhou. Enquanto o profissional trabalhava resolvemos juntar serragem em um armazém abandonado ao lado da oficina, utilizando para isso alguns sacos de trigo vazios que haviam sido ali descartados.

Chegando em casa espalhamos a serragem sobre o óleo que havia derramado na garagem.

Resolvemos então, para relaxar, tomar um café no Shopping Atlântico e não nos tocamos que nossa aparência, nessas alturas, não era das melhores. Os sacos soltaram um pouco de pó (trigo) em nossas roupas, além do que estávamos de agasalho e o Amur usava seu lindo tênis de pescaria.

No shopping, enquanto tomávamos café, chegou um sujeito com cara de alemão, meio fortão que, para pegar o pote de açúcar que estava sobre o balcão, ao invés de pedir licença, me afastou com um empurrão. Olhei feio para o sujeito e disse para ele que pessoas educadas pedem licença ao invés de empurrar. O cara quis bater boca e perguntou se eu estava estressado e quando eu ia responder observei que a esposa do Amur descia pela escada rolante. Ela observou que algo de estranho estava acontecendo e quando percebeu que se tratava de algo conosco, não teve dúvidas, sem nenhuma sutileza mostrou ao indivíduo a sua arma de ataque e defesa: sua poderosa bolsa, que deve pesar uns 28 quilos, rodando-a no ar, como uma arma medieval, perguntando: - o que está acontecendo aqui? Não mexam com o meu neguinho e nem com o meu amigo.

O sujeito olhou para o lado esquerdo, depois para o lado direito e, sem pestanejar, tomou o rumo da saída do shopping, não sem antes dizer para a mocinha do quiosque do café: - Pode ficar com o troco dos deizão, tenho um compromisso urgente que não posso faltar.

Há quem diga que o indivíduo saiu meio borrado do shopping.

Eu e o Amur, por nosso lado, prometemos a ela que não vamos mais ao shopping vestidos daquele jeito.

O hábito faz o monge, não tenham dúvida.