Não Diga Nada! - Desventuras De Um Bigode Chinês.

½ miligrama. E foi assim que eu o silenciei. Dopei-o, porque se não o fizesse poderia matá-lo facilmente.

A outra metade do “santo remédio” restou intacta na cartela mascarada atrás do vaso de samambaia. Esse sim, quase morto. Não sei porque a escondi junto a planta, mas certamente não o matei porque passaria os outros vinte e um dias do mês totalmente confusa.

Quantas vezes quis transformá-lo em uma camisa 100% algodão e pendurá-lo no varal para fritar ao sol do meio dia. Só assim ele entenderia o quanto é difícil passar uma camisa social e não deixar quinas nas mangas. E não há amaciante, ferro a vapor ou qualquer outro subterfúgio abençoado que me convença do contrário.

Sete dias. Talvez mais. Uma semana de intermináveis dores que se estendem da cabeça aos pés. Até o couro cabeludo fica sensível. Chorar é rotina. E ele ainda vem me dizer que a camisa não está bem passada! Cabide nele! Um cabidão de madeira goela abaixo até que não faria mal...

Empurrei-o da janela do quinto andar. O crime, disfarçado de suicídio, aconteceu apenas em meu pensamento, mas foi deliciosamente divertido. Ao final da cena, uma gargalhada maquiavélica. E tudo isso porque ele concordou comigo quando eu afirmei que estava gorda.

- Acho que engordei dois quilos por conta do inchaço.

- Inchaço?

- TPM.

- Eu também acho.

E por afirmar laconicamente que eu havia engordado, ele foi jogado do quinto andar. Mereceu!

Não me beije. Não me toque. Estou insuportavelmente enojada de mim mesma. Espinhas monumentais protuberam em minha testa. E eu que pensava ter passado da idade. Você não pode se esfregar em mim. Não hoje. Não agora. Não me toque. Não me toque! Mas ele me tocou. Joguei-o do quinto andar novamente. Pensei em sufocá-lo com o travesseiro, mas a porta da sacada estava escancarada. Não resisti. Uma gargalhada vilanesca.

- Por favor, cale a boca.

- Mas eu não disse nada!

- Mas pensou...

- Você está lendo meus pensamentos?

- Cale a boca!

- Você é louca...

Sabemos bem o quanto nos custa engolir a seco a risadinha irônica que nasce no canto da boca. Não leio pensamentos, mas conheço sua risada. Passo horas a observá-lo enquanto dorme. E como num filme de Hitchcock, manejo múltiplas personalidades e dissimulo planos malévolos no meio da madrugada.

Quando você ameaça me deixar por conta de meus destemperos, penso que o juramento deveria ser outro: “Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, e também durante todos os surtos psicóticos mensais que um dia, se Deus ajudar, se dissolverão em lembranças dignas de esquecimento após a menopausa.”

O par de meias recém-comprado que você usou ontem? Peguei para coar o café que você, e somente você, bebeu hoje de manhã. O pó não estava velho, afinal. Assim como não estão velhos meus olhos acolchoados por bolsinhas de estimação. Você diz que não repara nas bolsas, e que não entende como eu posso gastar uma fortuna em potinhos minúsculos com promessas miraculosas. Mas quando choro, pareço ter sido nocauteada pelo Tyson.

- Troque de roupa.

- Não gostou do meu vestido?

- Isso não é um vestido...

- Ninguem vai notar.

- Quando você estiver na fila do caixa para pagar pelo pão e uma rajada de vento levantar essa fenda gigantesca, aí você me diz...

Eis aí uma fórmula. Nunca discorde de mim. A não ser que eu esteja me criticando e pergunte a você o que acha. Nesse caso, discorde. Mas seja convincente.

- Eu não sei o que dizer.

- Diga apenas o que eu quero ouvir.

- Você é louca...

- Eu não quero ouvir isso!

Nos outros vinte e um dias do mês sou uma mulher completamente normal. Não tomo “sossega leão”, não jogo meu marido da sacada e não escondo o controle remoto da televisão dentro da geladeira. Não tenho desejos secretos de ordem ilícita, e não guardo coisas pequenas atrás do vaso de samambaia.

- Mas o que é isso amor. Você não precisa procurar pelas chaves do carro no vaso de plantas. Ah tá. Então você achou a cartela de calmantes.

- Quem está tomando isso?

- Você.

- Porque?

- Bom, porque durante os trinta dias do mês eu tenho vontade de te matar, mas somente durante sete dias é que eu realmente tenho coragem pra isso.

- TPM.

- Deixe a cartela aí.

- Então é por isso que estou dormindo tão bem?

- Você merece.

TPM-Teste Pra Marido

Não diga nada, ou você morre!