083 – O CHAPÉU MEXICANO...

Na minha cidade, época de eleições, um homem que era completamente desdentado de uma hora pra outra apareceu usando um novíssimo par de dentaduras, dentes reluzentes, dava largas gargalhadas se exibindo, enterrando pra sempre aquele seu antigo complexo de boca murcha.

Tanto sorria pra mostrar aqueles dentões que logo o apelidaram de Sorriso!

Nesta mesma época apareceu um parque de diversões com roda gigante, chapéu mexicano, carrinhos elétricos, e lá estava o Sorriso na fila para dar umas voltas no tal chapéu mexicano que acredito que todos vocês conhecem, é aquela imitação de chapéu, com os assentos firmemente soldados em corrente que são parafusadas na aba do tal chapéu, e este ao girar leva muitos ao delírio, e ao martírio a outros tantos.

Para o nosso Sorriso além do martírio, foi também um castigo pelo seu exibicionismo daquelas dentaduras. Assim que se assentou, passou a corrente de segurança firmemente sobre sua barriga, lentamente como quem nada quer com a vida o chapéu mexicano começou a girar, foi aí que ele se lembrou que tinha acabado de jantar e que não iria combinar aquelas rodadas com o seu bucho lotado de tranqueiras, tinha comido muito toucinho frito, torresmo!

O chapéu mexicano foi aumentando gradativamente a velocidade de seus giros, o nosso Sorriso desesperado gritava a todos os pulmões que parassem aquela geringonça, pois ele já estava passando mal, com ânsias de vômitos.

Por mais que o Sorriso gritasse, no meio daquela algazarra ninguém ouvia nada, se ouvia praticamente não entendia o que ele queria dizer, resignado, trancou a boca e começou a rezar, clamava por todos os santos para que nada de ruim lhe acontecesse!

Mas quando o chapéu mexicano atingiu a velocidade máxima, o Sorriso não resistiu, tentou resistir, suas rezas foram de pouca fé e não deu outra coisa, das suas entranhas começou a verter uma baba amarela que logo foi seguida de um longo esguicho azedo, fétido, o vomitado lá do alto foi lambuzando todos os que estavam à volta da máquina, tal qual uma mangueira furada no descontrole despejando água pra todos os lados, quando o chapéu mexicano finalmente parou notaram que o rapaz estava desmaiado e prontamente o retiraram do assento. Toda aquela gente lambuzada pelo vomitado ferveu em volta do Sorriso, palavrões, ameaças, xingaram até a mãe do coitado, alguns ameaçavam com safanões, cacetadas, murros, mas o Sorriso até então não estava entendendo nada, estonteado, limitava a um sorriso sem graça, murcho, e toda aquela gente de muito já haviam perdido a alegria do passeio no parque de diversões, rumaram para seus lares para que em seguidos banhos na certa tentariam se livrarem daquela catinga que impregnada parecia até em suas almas.

Serenada as coisas, foi aí que o Sorriso percebeu que tinha perdido o sorriso, ensandecido como que tivesse despertado de um sono profundo, em desabalada carreira em volta do chapéu mexicano a todos indagando se não tinham visto as suas dentaduras.

Tudo em vão, se alguém achou as tais dentaduras deve tê-las destruídas na raiva pelo acontecido.

Cabisbaixo o Sorriso, agora sem o sorriso, foi se retirando e fazendo as contas, teria que esperar mais quatro anos pelas novas dentaduras, só na próxima eleição recuperaria o sorriso.

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 18/07/2011
Reeditado em 23/07/2011
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