DE(tristeza, exclusão) PRÉ(falsos julgamentos) SÃO (pessoas santas)

Existia numa pequenina cidade do interior de Goiás chamada Compreensilvânia, um jovem e recém formado médico.

O digníssimo rapaz saiu de casa aos quinze anos de idade para poder estudar em uma escola pública de melhor qualidade. Foi morar a quase quinhentos quilômetros de sua família.

Por lá passou cerca de três anos, morou em internato, conseguiu se destacar como aluno e também como pessoa, em virtude de seus belos princípios e também por sua grande determinação em querer crescer. No seu primeiro vestibular passou em primeiro lugar para medicina, na universidade federal do estado.

Ele sempre lutou por melhorias, pois sua família era de baixa renda, sua casinha ainda era de adobe, sonhava em construir uma casa nova, com cerâmica, belos móveis e um banheiro digno para sua mãe.

Esse rapaz sempre sonhou muito... desde novinho dizia-se que seria médico... O seu sonho era tamanho, devido o pai ser alcoólatra e sempre ter deixado sua família em necessidade e aperto. Além dele, seus país tiveram mais dez filhos. Família pobre, mas muito bonita, a mãe foi um exemplo de pessoa para ele. Ela trabalhava para treze famílias, lavando roupa no córrego, toda semana, para poder sustentar a casa. Um exemplo de mulher.

Quando criança, chegava em casa, via sua mãe morta de cansaço sentada no tamborete de sua casa, lendo historinhas de ninar para seus irmãos dormirem. O pobre menino também desde novinho tinha muito interesse em ajudar sua família. Estudava seu colegial, chegava em sua casa, comia o arroz e feijão do dia, e logo em seguida saia correndo para o trabalho. Era engraxate na porta do único banco da cidade. Que por sinal e para sua felicidade, só tinha um engraxate, ele. Ganhava uns bons trocados, pois as pessoas ficavam com dó daquela criancinha, tão esforçada, querendo ganhar algumas moedinhas no dia, para comprar algo de comer para sua casa e alimentar seus irmãos mais novos.

Bom, voltando, essa criança tão bela cresceu e se tornou um competente e admirado profissional. Quando terminou seu curso de medicina, voltou para sua cidadezinha, conseguiu três empregos, um em Compreensilvânia e outros dois nas cidades vizinhas. Trabalhava todos os dias da semana e pagava plantão seis noites também... Só tinha o domingo à noite para dormir. Ele conseguiu em seis meses realizar todos os seus sonhos materiais. Em sua casa, ao invés de teto coberto por palha e lona, agora havia telhas de cimento, daquelas bem bonitas da modernidade. O tamborete foi substituído por um sofá de couro confortabilíssimo. A geladeira da casa não continha todos os alimentos que comprava. Ele ficou tão feliz que não sabia esconder sua felicidade para a população.

Ajudava quase todas os familiares pobres e também pessoas sem vínculos familiares da cidade, afinal, a cidade era bem pequenina.

Mas um dia, para sua infelicidade, sua mãe entrou em um sério problema de saúde. Câncer de mama. Coitado. Fez tudo que podia para livrar sua amada mamãe da morte, mas no segundo ano após ter descoberto a doença, ela partiu... Morreu aos quarenta e cinco anos de idade.

A vida do jovem médico foi de água abaixo. A sua razão de viver já não estava mais na Terra, restava-lhe seus irmãos e o pai viciado. Com mais cinco anos de trabalho exaustivo, conseguiu acumular um bom capital, estabilizou a vida dos irmãos.

Porém, sua tristeza era tamanha que já não via motivos para continuar a viver. Entrou em depressão. Tornou-se muito infeliz, já não era aquele homem e médico que todos conheciam. Começou a faltar o serviço e não atendia mais bem. Um ano depois da depressão perdeu todos os empregos. Todos o viam como depressivo, como um desencorajado, como um fracassado. Ficou tão triste que entrou em depressão profunda. Perdeu o direito da guarda dos irmãos para o pai e também o controle financeiro de suas contas bancárias.

Em três anos o pai conseguiu torrar todo o dinheiro conquistado com muito esforço do filho, com bebidas e muitas farras. A família teve que voltar a morar na antiga casinha, onde foram criados pela amorosa mamãe. O médico não estava tão ruim, mas a sociedade não o via com bons olhos mais, apenas como depressivo e louco.

Quando saía nas ruas de Compreensilvânia era tratado com muita indiferença, olhares de deboche e também de ironia, pois o viam com doido e louco.

O médico, visto como louco pela sociedade e por todos, continuou só piorando e foi de mal a pior. Parou em um manicômio da capital, pois seu problema havia se agravado e não tinha ninguém para ajudá-lo.

Como narrador, dou aplausos para essa cidadezinha retrograda que não conseguiu amparar ao menos com palavras, um ser humano tão belo e digno de toda ajuda possível. Um problema fácil de ser resolvido, apenas uma depressão, mas que se transformou em câncer espiritual, por excesso de tristeza, exclusão e falta de amor, levando esse exemplo de homem, a extrema perdição.

Um final triste e infeliz para uma história que tinha tudo para ser a mais bela possível.

SUBLIME SIMPLICIDADE
Enviado por SUBLIME SIMPLICIDADE em 30/06/2011
Reeditado em 16/12/2016
Código do texto: T3066012
Classificação de conteúdo: seguro