MARIPOSA

Virei a porta, atrás dela estava ali, num cantinho; sem asas para voar; a pequena mariposa; caminhando; tentando se esconder; era a única que havia escapado das mandíbulas nervosas das lagartixas; não sabia para onde ir; não sabia se subia na parede ou se ficava rodeando envolta de si; às vezes corria; às vezes andava devagar; inútil pelejar em busca de algo ou de quê mesmo?

A dúvida talvez fosse sobre o que fazer de sua própria existência inócua. Ao contrário dos marimbondos a mariposa tinha perdido suas asas para a metamorfose de sua natureza, alguns pés calçados passavam por ela sem tocá-la. E ela não encontrava um cantinho que fosse para se esconder, o jeito mesmo era ficar ali.

Sem ter a noção de sua posição na cadeia alimentar de outros bichos ferozes e rápidos no ataque, perambulava... Bastava aparecer uma galinha para acabar de vez com a dúvida da pequena, não restava saída em uma imensidão de piso senão a sorte de encontrar um véu que pudesse arrastá-la para fora, ou uma vassoura para varrê-la em direção à liberdade da rua.

Contudo, a minúscula débil perdia todas as oportunidades de se ver livre da incerteza, era muito mole seu corpo e suas patas miúdas, apesar de poder andar para os quatro cantos da realidade de seu espaço, preferia ficar ali! Desvairada tentando voar sem as asas. Sem que percebesse se aproximava dela um faminto réptil pulante cuja arte era soltar a língua pegajosa em direção ao alvo, a língua era o que faltava a Mariposa e a arte para acabar com a incerteza das amigas Mariposas.

Stenio Florencio
Enviado por Stenio Florencio em 23/04/2011
Reeditado em 27/03/2012
Código do texto: T2925658
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